A Samsung Electronics deverá anunciar uma queda de 39% nos lucros operacionais do segundo trimestre — um recuo que se traduz em 6,3 biliões de won (cerca de 4,62 mil milhões de dólares) e marca o ponto mais baixo dos últimos seis trimestres. À superfície, trata-se de mais uma quebra trimestral num setor altamente cíclico. Mas, ao olhar mais de perto, a queda revela algo mais profundo: a dificuldade da gigante sul-coreana em afirmar-se como protagonista na nova era dos chips para Inteligência Artificial.

Numa altura em que a procura por memória de alta largura de banda (HBM) dispara, alimentada por centros de dados sedentos de capacidade para treinar modelos de IA, a Samsung parece estar a correr atrás do prejuízo. Enquanto os seus concorrentes SK Hynix e Micron capitalizam o momento — com contratos sólidos com clientes como a Nvidia —, a Samsung continua a lutar para obter a certificação dos seus chips mais avançados. A demora na aprovação dos HBM3E de 12 camadas por parte da Nvidia é mais do que um contratempo técnico: é um sinal preocupante de que o maior fabricante de chips de memória do mundo poderá estar a perder a corrida mais importante da década.

A frustração dos investidores não é difícil de compreender. A Samsung tem escala, recursos e uma história feita de inovação. Mas, neste capítulo específico — o da computação acelerada e das infraestruturas de IA —, a empresa mostra-se lenta, tanto no desenvolvimento como na execução comercial. Ryu Young-ho, analista da NH Investment & Securities, resumiu a situação para a Reuters: “As receitas da Samsung com chips HBM provavelmente ficaram estagnadas no segundo trimestre, devido às restrições nas vendas à China e à falta de fornecimento relevante à Nvidia.” E, mesmo que já tenha começado a vender à AMD, o impacto real dessa parceria continua modesto.

Mais do que um problema tecnológico, a Samsung enfrenta aqui uma crise de posicionamento. Ao manter uma forte dependência do mercado chinês — precisamente aquele onde os EUA impuseram restrições às exportações de semicondutores de última geração —, a empresa expõe-se a um risco geopolítico difícil de contornar. Acrescem as ameaças de novas tarifas comerciais sobre smartphones e tecnologia não fabricada nos EUA, o que adensa a incerteza em várias frentes do seu negócio.

É certo que outras divisões, como a dos smartphones, continuam a dar sinais de resiliência. A procura antecipada, motivada por receios de tarifas adicionais, pode ajudar a mitigar parte do impacto negativo. Mas os analistas concordam que esse fôlego será, no máximo, transitório.

Nas bolsas, os sinais são inequívocos: embora as ações da Samsung tenham subido cerca de 19% este ano, continuam a ser das que menos renderam entre os grandes fabricantes de chips, bem abaixo dos 27,3% do índice KOSPI. A mensagem dos mercados é clara: a paciência tem limites, mesmo para um nome tão dominante como a Samsung.

No fundo, este episódio levanta uma questão mais ampla: poderá uma empresa acostumada a liderar reinventar-se a tempo de acompanhar uma revolução tecnológica que já começou sem ela? A história mostra que os gigantes nem sempre caem por falta de músculo — às vezes, tropeçam por hesitar no momento errado.