
No auditório cheio, onde estiveram presentes dezenas de pessoas, a liberdade, crise de refugiados, crise financeira, guerra na Ucrânia e guerra na Palestina foram temas centrais abordados nos discursos do Presidente da Republica Marcelo Rebelo de Sousa, de Angela Merkel e da reitora prof.ª Doutora Isabel Capeloa Gil.
A cerimónia foi iniciada com o discurso da reitora prof.ª Doutora Isabel Capeloa Gil que entre citações de nietchez e do filme Casablanca não poupou nos elogios a Angela Merkel afirmando que homenageiam “uma liderança fundada em valores, livre e sem medo”.
O titulo honoris causa é o “maior titulo da universidade” e é atribuído a “personalidades que hajam contribuído para o progresso da ciência, esplendor das letras e das artes. Às que ajam bem merecido da igreja, do país ou da humanidade. Às que tenham apostado no campo das atividades liberais”, sublinha a reitora.
“A crise da divida soberana, crise de refugiados, a pandemia, a ameaça russa na Ucrânia, encontraram em Merkel a confiança da ação decisiva no tempo. Ainda que esta tenha sido, por vezes, como intempestiva”.
Na intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa proferiu “elogios políticos” por virem “de um político”, como definiu, enaltecendo “a pujança económica e social”. Considera que Merkel “nunca esqueceu de onde partiu”. “Mulher do universo, mulher da Europa unida, mulher da Alemanha unida. Mas teve sempre presente a Alemanha onde nascera e a respetiva circunstância, e isso a fez compreender e gostar das pessoas em concreto”. Acrescenta ainda que nunca esquecerá a “irremovível posição sobre migrações”.
“Contra partido, governo, países, europas e mundo”, mas “popularmente atrativa e alegadamente piedosa (a posição).” “Vaga que sobe e que subirá até que os seus feiticeiros sejam vítimas dos seus feitiços”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa sobre a crise de refugiados.
No discurso de Angela Merkel refletiu sobre o próprio percurso político, abordando temas como o populismo e a necessidade de “voltar a lutar pela liberdade”. Agradeceu ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa pelo “apadrinhamento de uma antiga política”, recordando que viveu 35 anos sob uma ditadura e reconhecendo que os portugueses, também com um passado de regime autoritário, “têm isso presente e sabem o que significa liberdade”.
Referiu-se à reunificação da Alemanha como um “milagre da História”, assim como ao alargamento da União Europeia e da NATO e “cristalizou-se uma política”. Defendeu que “cada pessoa é única” e que só com esse reconhecimento individual é possível construir soluções eficazes.
Merkel destacou também a importância da solidariedade europeia durante as crises económicas. Recordou o esforço feito por Portugal durante a crise financeira, elogiando a colaboração do então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, e reconheceu o sofrimento vivido pelos portugueses nesse contexto. “Eu sei muito bem aquilo que sofreram aqui”. “Agradeço ao meu colega Passos Coelho” e “conseguimos”.
Sobre a crise dos refugiados, reforçou a mesma ideia: “Temos de olhar para as pessoas a nível individual”. Refere que a crise “levou a polarizações” e questionou se “vamos deixá-los (partidos populistas) definir a agenda ou vamos nós, os partidos democráticos”, assumir essa responsabilidade.
Apesar dos desafios, afirmou estar “otimista” quanto ao futuro, defendendo que é preciso “pensar em conjunto como europeus”. Sublinhou que “temos de voltar a lutar pela liberdade” e que “as gerações todas tem de lutar pela liberdade” especialmente numa era “ de redes sociais que não existia no passado”. Reforçou que “sem democracia não há liberdade” nem “dignidade humana”, e que a “política não vale de nada se os cidadãos não participarem”.
A cerimónia encerrou com a intervenção do Magno Chanceler D. Rui Valério, que sublinhou “O diálogo entre culturas, povos e ideologias é hoje a condição mínima para a paz”. “Num tempo em que tantos parecem apostar no ruído das armas e no poder da força, esta cerimónia é um lugar luminoso. Proclama que o saber e a dignidade humana ainda têm a última palavra”.
Angela Merkel nasceu a 17 de julho de 1954, em Hamburgo, mas cresceu na antiga República Democrática Alemã. Formou-se em Física pela Universidade de Leipzig e concluiu um doutoramento em Química Quântica no Instituto Central de Físico-Química da Academia de Ciências em Berlim-Adlershof.
Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, envolveu-se no movimento democrático e foi eleita deputada em 1990. Ocupou vários cargos ministeriais até liderar a CDU em 1998. Em 2005, tornou-se a primeira mulher a chefiar o governo alemão, cargo que ocupou durante quatro mandatos, até 2021.