
Os ativos financeiros dos portugueses nunca valeram tanto. Segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Banco de Portugal, o numerário, os depósitos, as ações e outras participações (exceto em fundos de investimento, regimes de seguros, pensões e garantias estandardizadas) detidos pelas famílias portuguesas valiam, no final de março, 577,4 mil milhões de euros — o equivalente a duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
No relatório sobre as Contas Nacionais Financeiras, a entidade liderada por Mário Centeno refere que “os particulares foram o setor com maior capacidade de financiamento, tendo financiado todos os restantes setores, com destaque para o setor financeiro. O financiamento dos particulares ao setor financeiro totalizou 2,2% do PIB, em termos líquidos. Este valor resultou, sobretudo, do aumento dos depósitos, parcialmente compensado pelo aumento dos empréstimos obtidos, designadamente com finalidade de habitação”.
Em termos nominais, os ativos financeiros detidos por particulares têm registado crescimentos trimestrais consecutivos desde o quarto trimestre de 2023. As famílias concentram as suas aplicações financeiras em numerário e depósitos, ações e outras participações.
Apesar de o numerário e os depósitos terem sido, no trimestre em análise, o instrumento financeiro com o aumento mais significativo em termos nominais (decorrente, em grande medida, da subida no investimento em certificados de aforro), as unidades de participação em fundos de investimento foram o único instrumento financeiro a crescer em percentagem do PIB (+0,2 pontos percentuais).
A maioria dos ativos financeiros detidos pelos particulares tinha o setor financeiro como contraparte (53% do total), sobretudo devido ao peso dos depósitos junto dos bancos. Os ativos financeiros detidos perante empresas não financeiras representavam 29% e correspondiam, principalmente, a ações e outras participações.
Mas não foi apenas o ativo que aumentou. O passivo dos particulares também subiu 0,7 pontos percentuais, interrompendo a tendência de descida observada desde o segundo trimestre de 2021. Esta inversão no comportamento dos passivos deve-se ao aumento do endividamento no primeiro trimestre do ano, que atingiu 37,2% do PIB — um crescimento diretamente ligado ao aumento dos empréstimos à habitação.
Também nesse documento, o Banco de Portugal revela que a economia portuguesa financiou o exterior em 2,6% do PIB.