
Principal herói, porque houve vários, da vitória de Portugal sobre a Estónia (65-68) que garantiu a passagem da fase de grupos no 41.º EuroBasket 2025, Rafael Lisboa, de 26 anos, que cumprirá, este sábado, a 51.ª internacionalização, conversou com A BOLA sobre o triunfo e o louco triplo que marcou. Mas também como tem sido defrontar alguns dos melhores basquetebolistas do mundo naquele que é o momento mais importante da carreira, que hoje (13h15) terá o ponto alto no embate contra a campeã do mundo Alemanha para os oitavos de final.
— Após terem defrontado a Sérvia e a Turquia, candidatos ao pódio no EuroBasket, seguem-se os campeões do mundo da Alemanha, que até ao momento teve como vitória mais curta 19 pontos contra a Lituânia. Como vê este jogo?
— Sabemos que vai ser difícil, mas é um jogo de basquete e vamos disputá-lo com toda a vontade de fazer uma boa partida, sermos competitivos e fazer o melhor possível. Antes de se jogar não se ganha nem se perde, por isso vamos à luta. Depois, no final, logo veremos o que é que o jogo nos vai dar.
— E como é que Portugal tem que atuar contra a Alemanha?
— Temos que estar extremamente focados, intensos e concentrados, porque a qualquer erro — serão cometidos vários como em todos os encontros — e falhas de atenção ou falta de intensidade a Alemanha irá castigar-nos. Tem que ser disputado no limite da nossa concentração e capacidade física para termos oportunidade de competir, pois são uma equipa muito boa.
— O selecionador alemão Alex Mumbro, disse hoje [ontem] que quer acelerar o jogo contra Portugal, usando o Franz Wagner na transição, como faz o Giannis Antetokounmpo (Grécia/Bucks), porque pensa que a Seleção não vai aguentar o ritmo. O que acha?
— Sabemos que essa é a maneira em que eles estão confortáveis a jogar. Trata-se de uma equipa que gosta de ter muitas posses de bola, têm muito talento e aprecia jogar em campo aberto. Estamos alertados para isso. Vamos implementar o nosso plano de jogo para contrariar esse ponto forte que têm, porque, como disse, a qualquer erro e turnover castigam-nos em contra-ataque. Gostam de marcar cestos rápidos. É uma seleção que faz 106 pontos por jogo, por isso, um dos pontos cruciais do jogo é limitar essa transição rápida que têm.
— Apesar do apuramento para os oitavos de final contra a Estónia, este é o jogo de maior peso da sua ainda curta carreira?
— Tento não pensar dessa maneira, mas sim que o próximo jogo é sempre o mais importante. Claro que agora serão os oitavos do Europeu. É um momento muito, muito importante, mas a única maneira de haver um balanço bom entre demasiado nervosismo e a tranquilidade necessária, é encarar o próximo encontro como o mais importante. Procuro estar focado e preparado para qualquer que seja o adversário, em qualquer competição. O jogo que se segue é difícil, numa competição bastante grande, mas se colocarmos na cabeça quevamos defrontar a Alemanha, iremos trazer uma tensão extra que não ajuda. Não devemos dar demasiada importância para além da que existe e o adversário que vamos defrontar. Colocar muito peso nisso também prejudica, temos que estar o mais soltos possível para competir.
— Como tem sido defrontar algumas das estrelas do basquetebol mundial?
— Um sonho e um objetivo. São aqueles jogos com que qualquer basquetebolista sonha e que trabalha desde miúdo para ter essa oportunidade contra os melhores. É com eles que se evolui e se aprende mais. Ainda por cima a representar Portugal, melhor que não podia pedir.
— Na carreira há algo comparável que já tenha vivido?
— Acho que não. Disputar, pela Seleção, uns oitavos num Europeu contra a campeã do mundo, perante tudo o que passámos e tivemos de ultrapassar para chegar aqui, é o cúmulo do sentimento de que o trabalho destes anos compensou. Desde que cheguei à Seleção, em 2020, o objetivo traçado era estar no EuroBasket 2025. E agora ter passado a primeira fase foi o cumprir de outro objetivo traçado em Fevereiro, quando nos qualificámos, torna-o no ponto mais importante. Já tive outros igualmente muito bons e que guardo com muita memória, mas este é o mais importante. Não só da carreira, acho mesmo dos momentos mais importantes do basquete português.
— Já teve dois dias para refletir após a vitória contra a Estónia. Como vive aqueles últimos 55 segundos em que marcou os últimos 7 pontos de Portugal num 4.º período que registou 12 pontos?
— Como profissionais, nestes momentos, por vezes não temos bem a noção de como é que as coisas se passam na realidade porque estamos extremamente focados. Encontramo-nos tanto dentro da personagem que o mundo à volta passa-nos ao lado. É quase como fosse um Rafael que está a jogar e um outro quando termina. São duas pessoas diferentes dentro da mesma, porque no fim tomo atenção a coisas que, com a adrenalina e o querer cumprir o objetivo passam ao lado, Naquele momento, a única coisa que tinha na cabeça era: ‘Vamos ganhar! Temos de ganhar!' Foi a maneira que o cérebro me disse que o caminho para vencer era arriscar daquela maneira. Foi o que fiz...
— E agora, olhando para esses 55 segundos, como vê as coisas?
— Se estivesse de fora que ficava mais nervoso. Provavelmente o meu primeiro instinto era, se fosse um outro jogador a fazer o lançamento naquele momento: não! Levava as mãos à cabeça e depois, quando a bola entrasse, respirava de alívio. Mas não sei, naquele instante senti uma calma, uma sensação de: lança que vai entrar, que é indescritível. Não consigo explicar melhor, só vivendo. Mas claro que, depois de ver o jogo e a situação, fico a pensar como é que tive coragem de lançar daquela maneira, quando ainda tínhamos tempo de ataque e 55 segundos de jogo. Não sei... Foi ali um milésimo de segundo na minha cabeça em que disse: estou demasiado sozinho, confortável e vou lançar.
— Ainda por cima a cerca de dois metros da linha de três pontos.
— Sim. Sabia que estava longe, mas não tão longe. Pensava que era um bocado mais perto.
— Já conversou com o seu pai [Carlos Lisboa] sobre esse triplo?
— Claro, claro… Falo com ele sobre os acontecimentos todos dos jogos. Compartilhamos muito. Ele dá as suas opiniões, por isso…É aquela sensação que enquanto a bola vai no ar ninguém diz nada. Mas depois de entrar foi a melhor decisão possível.
— E tem visto os memes nas redes sociais sobre esse seu triplo?
— Enviaram-me alguns e ri-me com uns, claro. Mas não vi muito, só os que me mandaram. Não foi propriamente uma coisa que estivesse à procura, mas a alguns achei alguma piada.
Encontros dos oitavos de final
Riga (Letónia), Xiaomi Arena
Letónia (9.º do ranking mundial)-Lituânia (10.º) Hoje (16h30)
Grécia (13.º)-Israel (39.º) Amanhã (19h45)
Turquia (27.º)-Suécia (49.º) Hoje (10h00)
Polónia (17.º)-Bósnia (41.º) Amanhã (10h00)
Alemanha (3.º)-Portugal (56.º) Hoje (13h15)
Itália (14.º)-Eslovénia (11.º) Amanhã (16h30)
Sérvia (2.º)-Finlândia (20.º) Hoje (19h45)
França (4.º)-Geórgia (24.º) Amanhã (13h15)