O início do novo ano letivo está novamente marcado pela crise no acesso à habitação estudantil. Para dar visibilidade ao problema, a Federação Académica do Porto (FAP) instalou outdoors junto ao Pólo Universitário da Asprela e na zona do Campo Alegre, com mensagens críticas ao aumento do preço dos quartos. “Com quartos para estudantes a 500€ só nos resta armar a tenda”, alerta um dos painéis.

A ação coincide com a abertura da segunda residência criada pela FAP, no Marquês, que disponibiliza 24 camas para bolseiros. “Quando o Estado falha, os estudantes resolvem”, afirma outro dos outdoors, em alusão à forma como a academia tem tentado, com recursos próprios, dar resposta a um problema estrutural.

“Ano após ano alertamos para o problema do alojamento estudantil. Esta crise está a fazer do ensino superior um reprodutor das desigualdades em vez de um elevador social”, sublinha Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP.

De acordo com o Observatório do Alojamento Estudantil, um quarto no Porto custa em média 400 euros. Para os mais de 24 mil estudantes deslocados que entram este ano no ensino superior na cidade, garantir casa é muitas vezes o maior obstáculo depois da colocação.

O Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), apresentado em 2018, previa 18 mil novas camas até 2026, mas, a um ano do prazo, apenas 2400 estão concluídas. “É preciso investimento público e, a curto prazo, parcerias público-privadas que aumentem a oferta”, defende o presidente da Federação Académica do Porto, entidade que tem procurado dar resposta com recursos próprios.

Depois da abertura, em 2023, da Academia 24 da Bainharia, na Ribeira, com 40 camas, os estudantes vão gerir também a nova Academia 24 do Marquês, situada na Praça Marquês de Pombal, resultado de uma parceria com o Instituto Profissional do Terço, uma IPSS do Porto. O edifício foi requalificado e inclui quartos, cozinha, espaços de lazer, áreas de estudo individual e coworking.

Com um total de 64 camas agora disponíveis, a FAP sublinha que o esforço dos estudantes é insuficiente face à escala do problema. Por isso, volta a apelar às instituições de ensino superior e ao Estado que aumentem a oferta pública de alojamento e estabeleçam parcerias com entidades privadas e do sector social. Só assim, diz, será possível aliviar a pressão sobre os estudantes deslocados e garantir acesso mais justo ao ensino superior.