
Com mais de 7 500 novos casos por ano em Portugal, o cancro da próstata continua a ser a principal doença oncológica masculina. Adiar exames pode parecer inofensivo, mas o tempo perdido pode fazer toda a diferença.
O verão é, para a maioria dos portugueses, sinónimo de pausa, descanso e tempo em família. Mas, enquanto as rotinas abrandam, a doença oncológica não dá tréguas. O cancro da próstata, o mais comum entre os homens no nosso país, continua a evoluir silenciosamente, muitas vezes sem dar sinais nas fases iniciais. E é precisamente nesta altura do ano, em que se adiam exames e se desvalorizam sintomas, que importa recordar a importância da prevenção.
De acordo com os dados da Globocan, Portugal regista mais de 7 500 novos casos de cancro da próstata todos os anos, sendo esta também uma das principais causas de morte por cancro entre os homens, com cerca de 2 000 óbitos anuais. A elevada incidência está diretamente ligada ao envelhecimento da população, mas não só. A falta de rastreio regular e o desconhecimento sobre os avanços no diagnóstico e tratamento contribuem para que muitos casos só sejam detetados em fases mais avançadas.
Os meses de verão, tradicionalmente associados a menor procura de cuidados médicos, representam uma janela de risco. As consultas são adiadas, os exames ficam para depois e as decisões clínicas acabam por ser postergadas. No caso do cancro da próstata, isso pode significar perder a oportunidade de intervir precocemente, com tratamentos menos invasivos e maior probabilidade de cura. Um simples teste de PSA e uma ressonância magnética multiparamétrica são, na maioria das vezes, suficientes para detetar a doença ainda numa fase localizada.
A evolução da medicina nos últimos anos tem permitido abordagens cada vez mais personalizadas e eficazes. A ressonância multiparamétrica, por exemplo, passou a ser central no rastreio dirigido, identificando com maior precisão os casos que realmente justificam uma biópsia. Esta, por sua vez, é hoje preferencialmente realizada por via transperineal, com menor risco de infeção e maior conforto para o doente. Quando o diagnóstico é confirmado, já não estamos apenas perante a escolha entre cirurgia radical ou radioterapia. A terapia focal tem vindo a afirmar-se como uma alternativa segura e eficaz em casos selecionados, permitindo tratar apenas a área afetada e preservar ao máximo a função urinária e sexual. Técnicas como a electroporação irreversível (IRE) são disso exemplo, proporcionando bons resultados oncológicos com menor impacto na qualidade de vida.
No Instituto de Terapia Focal da Próstata temos vindo, ao longo da última década, a aplicar estas soluções com sucesso, sempre com uma abordagem centrada no doente, com base na prática clínica mais atual. A tecnologia tem sido fundamental, mas mais determinante ainda é a deteção precoce. É aí que se ganha, muitas vezes, a batalha decisiva.
Por isso mesmo, se tem mais de cinquenta anos, ou se há casos de cancro da próstata na sua família, não espere por setembro para agir. O verão pode e deve ser uma oportunidade para cuidar de si. Aproveite este período com mais tempo livre para marcar os exames, esclarecer dúvidas com o seu médico e garantir que a sua saúde não fica para segundo plano. A maioria dos exames são simples, rápidos e pouco invasivos. E se o diagnóstico justificar tratamento, hoje existe um leque de opções que respeitam cada vez mais a qualidade de vida.
Falar de saúde masculina no verão não é apenas oportuno, é também urgente. Numa altura em que se multiplicam as campanhas sobre proteção solar, hidratação ou segurança rodoviária, a prevenção do cancro da próstata continua quase ausente da agenda mediática. Este artigo é também um apelo aos meios de comunicação. Está nas mãos da informação salvar vidas. Divulgar, questionar, colocar este tema na ordem do dia é um serviço público inestimável. E, muitas vezes, é a única forma de chegar àqueles que nunca entrariam, por iniciativa própria, no consultório de um urologista.
O cancro da próstata não tira férias. A saúde masculina ainda é, em muitos casos, um tema evitado. Quantos pais, maridos, irmãos ou amigos deixam andar por medo, por falta de tempo ou simplesmente porque acham que “não é nada”? Falar sobre cancro da próstata é também quebrar esse silêncio. Se este artigo faz pensar em alguém de quem gosta, partilhe-o. Uma simples conversa pode ser o ponto de partida para salvar uma vida.
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