Passear à beira mar, com o oceano por pano de fundo, é das melhores coisas que se pode fazer. Confesso que não sou fã de praia, na torreira do sol, no meio da algazarra estival. Mas gosto muito de olhar para o mar, de ver o areal.

Para mim as melhores alturas para sentir a praia são, por esta ordem, o outono e a primavera, quando tudo está mais sossegado — os fins de tarde, sobretudo no outono, têm uma luz mágica. Há dias em que a areia parece virgem e em que apenas se distinguem as marcas dos passos de uma pessoa, caminhando pelo areal sem destino, rumo ao mar.

Quem seria que passou ali? Até onde andou? Por onde voltou? Não vejo  ninguém, mas sinto uma presença. Não há duas linhas de pegadas, apenas a de ida, uma pessoa só, que por ali não regressou. É uma marca efémera, amanhã já terá desaparecido e o areal acordará todo liso até que mais alguém se decida a percorrê-lo. Todos os dias renasce, acariciado pelo mar.

Quando olho para esta fotografia recordo-me de uma magnífica série de televisão dinamarquesa, que passou há algum tempo na RTP2, Um Hotel À Beira-Mar. O hotel funcionava poucos meses por ano e era sempre frequentado pelas mesmas pessoas, que acabavam por manter entre elas uma relação que se desfazia no final da época, para renascer no ano seguinte, num ciclo de cumplicidades, rivalidades e aventuras. De certa forma é como a relação entre o mar e o areal, vai-se renovando permanentemente, deixando pelo meio mistérios, segredos, paixões.

Quem terá deixado estas marcas na areia? Que andou ali a fazer?

Estratégias de comunicação// Manuel Falcão escreve sempre à sexta-feira, no SAPO