Lisboa é hoje uma terra de mil paladares, de descobertas sem fim. Há bairros, ruas, pracetas, onde parece que estamos numa reunião da sociedade das nações.
Este é um vestido que levanta perguntas e desassossega a imaginação, cumpre na perfeição o papel de agente provocador. Roupa assim funciona na banca de uma feira, não num catálogo de compras online.
Estes super-heróis e estes animais são os guardiões de alguém que os reencontra ao chegar a casa e ao abrir as portadas da janela os vê, vigilantes, no seu horizonte.
Em Portugal, as janelas são muitas vezes tapadas. Tudo serve para quebrar o encanto de uma janela aberta. Noutras paragens, ao passear pelas ruas à noite, sinto a luz que vem das janelas, prova de vida dessas casas.
Van Gogh dizia que insistia em fazer o que ainda não fazia como queria, de maneira a aprender a fazê-lo como deve ser. É esta persistência que me encanta.
Estes pedaços de ruína no meio da cidade são o sinal do que correu mal na vida de alguém, talvez de uma zanga familiar entre herdeiros que não se entendem.
Para que serve um cêntimo ou dois? Por estes dias fiquei estarrecido: no ano passado Portugal importou 26 milhões de moedas de um cêntimo e 34 milhões de dois cêntimos.
As campanhas eleitorais são feiras nas quais os líderes partidários parecem modelos na passerelle de uma produção de moda rasca, montadas em manequim de plástico.
Para muitos portugueses, viver na cidade é já uma miragem. Desde 2017, Lisboa perdeu 30 mil eleitores para concelhos periféricos, alterando a demografia.
Reparem na cara dos alunos, a descoberta que se desenha nos seus olhos, a informalidade de estarem ali sentados no chão com os monitores a falar-lhes deste quadro.
Da mesma forma que a classe política piorou, também o que hoje muitas vezes se apresenta como liberalismo é apenas uma réplica mal feita da ideia original.
Um ramo de flores abandonado, mesmo sendo secas as flores, é uma visão que evoca ruturas, é o testemunho de uma vontade de partilhar afetos que foi interrompida.
Os postigos são o paraíso dos voyeurs, nem sei como é que Alfred Hitchcock não os usou em nenhum filme, eles são as janelas indiscretas sobre a vida dos outros.