A China tem vindo a consolidar-se como um dos mais importantes parceiros económicos da Europa. Portugal e Espanha encontram-se em posições privilegiadas para beneficiar desta tendência. Para Portugal, a aposta chinesa na Península Ibérica não é só mais um reflexo de uma estratégia global. É, sobretudo, uma oportunidade única para as empresas portuguesas reforçarem a sua competitividade e presença nos mercados internacionais.

A recente decisão da China Aviation Lithium Battery (CALB) de investir cerca de dois mil milhões de euros numa fábrica de baterias em Sines é um momento histórico para a economia portuguesa. Este projeto, que poderá representar mais de 4% do PIB nacional, não só impulsionará o setor industrial como criará 1.800 postos de trabalho diretos. Este empreendimento demonstra a confiança dos investidores chineses no potencial do país, ao mesmo tempo que fortalece a posição de Portugal na cadeia de valor das energias renováveis e da mobilidade sustentável.

Mas o interesse chinês em Portugal não se limita ao setor das baterias. O embaixador da China em Portugal reforçou, numa recente visita aos Açores, a vontade de estabelecer parcerias para a importação de produtos de alta qualidade como leite, carne, queijo e peixe. Para as empresas portuguesas, este é um sinal claro de que há um mercado vasto e com grande poder de compra à espera de produtos diferenciados e com selo de qualidade europeu.

O crescimento do investimento chinês na Península Ibérica não acontece por acaso. Com os Estados Unidos a adotar uma política comercial cada vez mais protecionista sob a liderança de Donald Trump, a China tem reforçado a sua presença na Europa. Em Espanha, 2024 foi um ano recorde para o investimento direto chinês, com 33 novos projetos em setores estratégicos como energia limpa e produção de baterias. Esta tendência deverá continuar, consolidando a Península como um polo fundamental para a expansão chinesa na Europa.

Para Portugal, esta aproximação à China pode representar uma alavanca económica fundamental. O setor automóvel europeu, por exemplo, enfrenta desafios significativos, e a China pode desempenhar um papel-chave na sua reestruturação. A Volkswagen já admitiu conversações com investidores chineses para a venda de fábricas na Alemanha, numa altura em que os fabricantes chineses procuram formas de evitar tarifas da UE sobre veículos elétricos importados da China. Considerando que a indústria automóvel representa cerca de 7% do PIB da União Europeia e emprega 13 milhões de pessoas, uma maior presença chinesa pode ser crucial para garantir a sua sustentabilidade.

Outro fator determinante é o lítio. A Europa precisa urgentemente deste recurso para impulsionar a transição energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Atualmente, a UE importa 97% do lítio necessário à sua economia da China. O investimento chinês em Sines reforça esta dependência, mas também cria oportunidades para o desenvolvimento da indústria nacional e para a captação de novos projetos de inovação e tecnologia.

No contexto da nova ordem económica mundial, Portugal tem tudo a ganhar com uma estratégia de cooperação ativa com a China. Seja no setor energético, no agroalimentar ou na indústria automóvel, a entrada de capital chinês pode significar crescimento, inovação e emprego para o país. Em tempos de incerteza geopolítica e económica, Portugal e as empresas portuguesas não podem ignorar esta oportunidade.

João Rodrigues dos Santos, Professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia