"Os maiores players da economia global estão em trajetórias diferentes", referia a Businesse Insider em fevereiro de 2024. "A economia dos EUA continua a mostrar uma resiliência notável" e "o crescimento europeu vacilou", destacava ainda a mesma fonte, citando uma nota do Bank of America.

Olhando para uma análise conduzida recentemente pelo Instituto Mais Liberdade, a partir de dados do Fundo Monetário Internacional e da Reserva Federal Norte-Americana, a diferença no valor das duas economias é muito grande na atualidade, tendo-se acentuado de forma muito significativa nos últimos 15 anos.

Esta separação tão expressiva não se limita a um único fator. De acordo com a BBC, a "dissociação", sublinhada pela Business Insider, resulta de uma conjugação de políticas económicas e sociais, dinamismo do mercado de trabalho e independência energética.

Com a resposta à pandemia como pano de fundo, a BBC aborda as três razões que levam ao desfasamento crescente no desempenho económico dos dois blocos.

Em primeiro lugar, no combate à crise criada pela pandemia, a Europa apostou na sua ampla rede de proteção social, garantindo a manutenção dos empregos e evitando ruturas imediatas no tecido empresarial. Nos Estados Unidos, a estratégia foi diferente. O Congresso norte-americano aprovou o maior pacote de estímulo federal da história dos EUA, injetando dinheiro diretamente nas contas das famílias e empresas.

A BBC sublinha que a mentalidade norte-americana é muito clara. Para os americanos, perante uma crise, é preciso agir rapidamente e com escala, para evitar consequências agravadas. Parte do dinheiro injetado na economia veio, inclusivamente, a tornar-se poupança excedentária, que ainda hoje alimenta o consumo, que é responsável por cerca de 70% da economia dos EUA. Entretanto, os Estados Unidos continuam a registar um crescimento sustentado, enquanto na Europa se agravam os desafios estruturais.

Outro fator essencial é a flexibilidade do mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, a legislação permite às empresas ajustar rapidamente a força de trabalho, reduzindo postos de trabalho quando é necessário e voltando a contratar quando a economia melhora. Refere a BBC que, durante a pandemia, esse mecanismo permitiu às empresas orientarem os apoios e os esforços para a modernização e inovação em vários setores.

Na Europa, a abordagem foi muito diferente. Muitos governos financiaram as empresas para que estas mantivessem os trabalhadores nas suas folhas salariais, mesmo quando a economia estava praticamente parada, em função dos confinamentos impostos. O objetivo passou por garantir estabilidade social, mas o impacto a médio/longo prazo consistiu numa menor adaptação ao atual cenário económico, cada vez mais tecnológico e especializado.

Mesmo em relação à garantia do emprego, o efeito é, aparentemente, perverso a médio prazo. O reflexo desta evidência encontra-se nos números atuais do desemprego nos dois blocos. Nos EUA, a taxa de desemprego ronda os 4% e na Zona Euro supera os 6%. A rigidez do mercado laboral europeu parece continuar a ser um entrave à recuperação económica.

A terceira grande diferença entre as duas economias está na energia. Os EUA são um exportador líquido de energia, o que garante uma maior resiliência económica. A Europa, por outro lado, depende fortemente das importações. Esta é, aliás, uma fragilidade que se tornou evidente com a guerra na Ucrânia. A aposta estratégica na transição energética é, por isso, central para a União Europeia.

Infelizmente, a tendência de divergência parece longe de abrandar. O FMI prevê para 2025 um crescimento de 2,7% para os EUA e apenas de 1% para a Zona Euro. O BCE prevê um crescimento ainda menor para a área da moeda única: 0,9%.

Enquanto a economia norte-americana mantém a resiliência e a capacidade de adaptação, a Europa continua a enfrentar desafios estruturais que dificultam a convergência.

Ver-se-á agora de que modo a nova administração norte-americana irá influenciar este processo. Certo é que, do lado de cá, sem reformas profundas, UE e Zona Euro continuarão a perder terreno face à economia norte-americana.

Professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia