
O Sport Lisboa e Benfica, um dos maiores símbolos do desporto nacional, vive dias de grande inquietação. A recente demissão de Fernando Seara da presidência da Mesa da Assembleia-Geral lançou o clube para o centro do debate público, revelando uma instabilidade que vai muito além da disputa futebolística. O que está em causa é o próprio modelo de governação do clube, a confiança dos sócios e a capacidade de regeneração de uma instituição centenária.
Os factos são claros: a Assembleia-Geral realizada no passado fim de semana ficou marcada por desacatos, protestos e uma clara erosão da autoridade dos órgãos sociais. Num clube com a dimensão e a história do Benfica, este tipo de ambiente não pode, nem deve, ser normalizado. A saída de Seara, figura respeitada da vida pública nacional, foi interpretada como um sinal de cansaço e de falta de condições para o exercício livre e democrático da sua função.
Este contexto suscita uma questão fundamental: o Benfica está a atravessar uma crise pontual ou está perante uma oportunidade única para se repensar enquanto instituição? A resposta poderá passar por ambos os cenários. Mas o que não pode continuar é a falta de diálogo, a desconfiança entre dirigentes e associados e a ausência de um rumo claro.
O nome de João Diogo Manteigas, que se posiciona como alternativa à atual liderança, tem gerado curiosidade e, em certos setores, esperança. A sua entrada em cena poderá marcar o início de um novo ciclo. Mas para que isso aconteça, não bastam nomes novos: é necessário um projeto claro, transparente e com verdadeiro espírito de serviço ao clube.
Do ponto de vista do Canal Alentejo, que acompanha com atenção o impacto social e cultural dos grandes fenómenos nacionais, importa sublinhar que o futebol — e em particular o Benfica — tem um peso significativo na vida das populações do interior. Nos cafés, nas coletividades, nas tertúlias, o debate em torno do clube da Luz é frequente e apaixonado. Mas também há uma exigência crescente: os adeptos querem um clube com princípios, com valores, com respeito pelos seus.
Num tempo em que tantas instituições enfrentam crises de legitimidade, o desporto deve ser um exemplo e não mais um problema. A transparência, a participação ativa dos sócios e a renovação das lideranças são elementos fundamentais para qualquer organização que se quer moderna e coesa.
O Benfica tem diante de si dois caminhos: continuar a alimentar divisões internas ou aproveitar este momento para se reconstruir com base no diálogo, na ética e na união. A escolha cabe aos seus sócios. Mas o debate interessa a todos, até porque um Benfica forte e democrático é, também, um contributo para um Portugal mais justo e participativo — do litoral ao interior.
Porque, como se diz no Alentejo, “quem não muda, estagna”. E o Benfica tem tudo para ser, novamente, um clube à frente do seu tempo.