Horse Economic Forum divulga Estudo do Impacto Económico do Cluster do Cavalo e propõe Agenda Estratégica nacional.

A vila Alter volta a a ser palco de referência para o sector equestre nacional e internacional, com a realização da segunda edição do Horse Economic Forum que teve início esta sexta-feira, no Cine-Teatro, um evento que pretende reforçar a importância estratégica da economia equestre para o desenvolvimento do território.

Durante dois dias, o evento reúne dezenas de especialistas, produtores, investigadores e decisores políticos, todos com o objectivo comum de discutir o presente e traçar o futuro da fileira do cavalo em Portugal, com enfoque especial no cavalo lusitano.

Coube ao presidente da Câmara de Alter, Francisco Miranda, abrir a sessão, que contou ainda com a presença do secretário de Estado da Agricultura, João Moura, do presidente da Companhia das Lezírias, Eduardo Oliveira e Sousa, e do presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, José Manuel dos Santos.

Na abertura do fórum, o presidente da Câmara Municipal de Alter, Francisco Miranda, fez questão de salientar o compromisso do município com o sector equestre. «Não queremos apenas estar ligados ao cavalo — queremos liderar, com conhecimento, estratégia e sustentabilidade», afirmou. Para a autarca, a história da Coudelaria é um motivo de orgulho, mas é no presente que se joga o seu verdadeiro valor, pois «temos aqui um centro de excelência com impacto direto na economia local e nacional. Estimamos que só no nosso concelho o setor equestre represente cerca de seis milhões de euros por ano. Queremos duplicar esse número», afirmou.

Francisco Miranda lembrou que a Coudelaria de Alter «é uma das mais antigas do mundo», e que, além de ser «o berço do cavalo lusitano», alberga o laboratório de genética molecular que valida animais para o livro da raça em todo o mundo.

Concluiu referindo que o Horse Economic Forum é mais do que um evento técnico, «é um instrumento estratégico de partilha de conhecimento e atracção de investimento».

O presidente da Companhia das Lezírias, Eduardo Oliveira e Sousa, reforçou a visão de que o cavalo é um dos poucos produtos agrícolas com potencial de valor acrescentado. «Diferente das commodities, o cavalo é um bem cultural e económico. Temos de encontrar formas de valorizar o trabalho do criador», afirmou, chamando a atenção para o papel do cavalo na preservação ambiental e no combate às alterações climáticas.

O dirigente destacou ainda os desafios que o sector enfrenta, sobretudo na remuneração dos criadores. «O elo mais fraco continua a ser o produtor. Há cavalos vendidos por centenas de milhares de euros, mas o criador raramente vê essa valorização refletida no seu rendimento. Precisamos de uma cadeia de valor mais justa e de políticas que incentivem a sustentabilidade da criação», defende.

Já o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Manuel Santos, sublinhou o impacto do cavalo como activo turístico. «O turismo equestre é uma oportunidade estratégica ainda pouco aproveitada em Portugal, apesar da força do cavalo lusitano. Países como a Áustria ou a Andaluzia souberam usá-lo como alavanca turística – nós temos de fazer o mesmo», disse, anunciando que a região irá reativar em breve uma estratégia dedicada ao sector.

A sessão foi encerrada pelo secretário de Estado da Agricultura, João Moura, que elogiou o empenho dos autarcas e das instituições envolvidas. «A Coudelaria de Alter é um símbolo nacional. Aqui nasceu o cavalo mais valioso de sempre, o Rubi, e daqui se espalhou a genética que deu origem a raças reconhecidas mundialmente», destacou, realçando o valor simbólico e económico do cavalo lusitano. «É um dos nossos diamantes nacionais, com presença global e enorme margem de crescimento».

O governante anunciou ainda que o Governo irá certificar oficialmente a actividade dos ferradores, valorizando uma profissão essencial à saúde e performance do cavalo.

Ao longo de dois dias, o Horse Economic Forum conta com dezenas de conferências, workshops e mesas redondas sobre temas que vão da genética à sustentabilidade, do desporto equestre ao turismo, passando pela digitalização e pela nova geração de empreendedores do setor.

Mais do que um evento técnico, esta iniciativa do Município de Alter é uma demonstração clara de que o concelho pretende afirmar-se como a capital da economia do cavalo em Portugal, combinando tradição, conhecimento e inovação.

«O sector equestre tem impacto transversal e é gerador de valor em múltiplas áreas da economia portuguesa».

O sector equestre em Portugal revela-se um motor económico de grande relevância para o País, com um impacto total estimado em 2,73 mil milhões de euros por ano e a geração de 92.045 postos de trabalho.

Os dados são divulgados no estudo “A Economia do Cavalo em Portugal”, apresentado no âmbito do Horse Economic Forum (HEF II), cuja segunda edição se iniciou hoje, em Alter.

O estudo do impacto da fileira equestre na Economia Nacional, aponta para um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de 617 milhões de euros gerados pelo sector equestre. A fileira do cavalo estende-se muito para além da criação e treino de equinos, integrando actividades como turismo, eventos, serviços veterinários especializados, terapias assistidas, acontecimentos desportivos, etc.

O sector contribui directamente com 1,52 mil milhões de euros de volume de negócios e emprega, de forma direta, 57.528 pessoas – sobretudo em zonas de baixa densidade. Os números disponíveis sobre as exportações indicam que Portugal é também um exportador líquido de cavalos: em 2023 as exportações representaram cerca de 9,38 milhões de euros.

A nível local, o concelho de Alter, território histórico da Coudelaria Alter Real e do Cavalo Lusitano, beneficia de forma particularmente expressiva deste dinamismo. A região reforça a sua atractividade económica e turística com mais de 100 mil visitantes por ano motivadas pelo cavalo Alter Real e pelas actividades equestres, gerando receitas directas superiores a 28 milhões de euros.

O Estudo sublinha ainda a importância estratégica do turismo equestre nacional, alimentado por 88% de turistas estrangeiros e valorizado pelo recente reconhecimento da arte equestre portuguesa como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO (2024). Esta distinção posiciona Portugal como destino diferenciado de turismo de natureza, tradição e autenticidade, que move anualmente cerca de 115.500 turistas e gera uma receita directa estimada de 28,9 milhões de euros.

«Este relatório confirma o que em Alter do Chão sempre soubemos: o cavalo não é apenas uma herança, é um activo económico, social e turístico de primeira ordem», sublinha Francisco Miranda, presidente da Câmara Municipal de Alter. «O sector equestre tem impacto transversal e é gerador de valor em múltiplas áreas da economia portuguesa. Com o HEF II demonstra-se que estamos perante um recurso com enorme potencial estratégico», reforça Francisco Miranda.

Alexandre Real, responsável da organização Evento, realçou «o crescimento da segunda edição do HEF, com mais nacionalidades presentes, mais participantes e maior impacto no sector equestre na promoção da sustentabilidade e do bem-estar animal. Ao nível internacional esta edição reforçou o seu posicionamento e parceria com a Federação Equestre Internacional e com a Federação Equestre Europeia. O Horse Economic Forum nesta edição teve a ousadia e a inovação de pela primeira vez quantificar e qualificar o quanto vale a fileira equestre em Portugal».

«Apesar das debilidades financeiras de parte do tecido empresarial, os dados confirmam que a economia do cavalo tem condições para atrair investimento e crescer com sustentabilidade», conclui o professor Álvaro Lopes Dias, coordenador do estudo.

O Estudo propõe a criação de uma Agenda Estratégica nacional que alinhe prioridades para o desenvolvimento integrado da fileira equestre e da promoção da “Economia do Cavalo”. Defende também o reforço da promoção internacional do cavalo Lusitano, valorizando a sua notoriedade e prestígio como embaixador cultural de Portugal.

Entre as medidas recomendadas, destacam-se os incentivos à inovação tecnológica, à digitalização dos serviços e à qualificação dos recursos humanos. Finalmente, sublinha-se a importância de articular e coordenar políticas públicas, investimento privado e iniciativas locais, com vista à coesão territorial e à revitalização das zonas rurais.

O Estudo “A Economia do Cavalo em Portugal” foi realizado ao abrigo dos objectivos do Horse Economic Forum pela Consultora SFORI e coordenado pelo professor Álvaro Lopes Dias, com base em dados recentes e recorrendo a um modelo de análise mista com estimativas directas, indirectas e induzidas, e recurso a benchmarks internacionais.

O Horse Economic Forum será também palco para a apresentação do inédito Caderno do Investidor Equestre, um documento estratégico que evidencia o potencial do concelho de Alter como território de excelência para o investimento no sector do cavalo. Reunindo dados económicos, sociais e territoriais, bem como exemplos concretos de sucesso e oportunidades emergentes, este caderno constitui uma ferramenta prática e inspiradora para investidores, empreendedores e decisores que procuram integrar um ecossistema onde tradição, inovação e sustentabilidade se cruzam de forma única.

No seguimento do seu compromisso na adopção dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas para promover a sustentabilidade global até 2030, HEF II foi organizado como evento de carbono negativo, reconhecido através do Selo Sustentável, que certifica o empenho do Fórum com a adopção de práticas ambientalmente responsáveis, de avaliação do seu impacto ambiental e implementação de medidas concretas de compensação.