No relatório das contas nacionais trimestrais, referente aos primeiros três meses de 2025 -- período ainda marcado pela forte agitação social pós-eleitoral no país -, o INE explica este desempenho, "em primeiro lugar", com o setor secundário, que recuou 16,18%, "com maior destaque" para a eletricidade, gás e distribuição de água, que caiu 22,47%, seguindo-se a indústria manufatureira, que recuou 14,77%, e a construção, com uma queda de 10,77%.

O setor terciário caiu 8,31% nos primeiros três meses, face ao mesmo período de 2024, "induzido pelo ramo de hotéis e restaurantes", com menos 21,57%, seguido pelos transportes, armazenagem e atividades auxiliares dos transportes e informação e comunicações, com uma queda de 21,33%, e pelo comércio e serviços de reparação, com menos 18,08%.

Por outro lado, o setor primário registou uma variação positiva de 2,09%, influenciado pelo ramo da indústria de extração mineira, que cresceu 6,53%, seguido pela pesca, com 1,32%.

A procura agregada retraiu em 0,22% no primeiro trimestre de 2025, quando comparado com igual período de 2024, influenciada pela "redução do consumo privado, componente de maior peso na demanda interna" e no Produto Interno Bruto (PIB), que neste período caiu 7,51%.

As exportações "registaram um fraco desempenho", com uma queda de 2,26% de janeiro a março, em termos homólogos, enquanto as importações registaram um desempenho positivo de 6,11%.

O PIB moçambicano registou um crescimento de 3,56% no primeiro trimestre de 2024, seguindo-se novas subidas, de 4,28% e de 5,53%, no segundo e terceiro trimestres, respetivamente.

Na sequência da agitação que se seguiu às eleições gerais de 09 de outubro, registaram-se quedas no PIB de 5,73% no último trimestre e de 3,92% no primeiro trimestre de 2025, segundo o INE.

O Governo moçambicano prevê um crescimento do PIB de 2,9% em 2025, revisto em baixa face à estimativa anterior às eleições de 5%. Em 2024, segundo dados preliminares anteriores do executivo, a economia moçambicana cresceu 1,85%, contra a previsão anterior às eleições de 5,5%.

Moçambique viveu quase cinco meses de tensão social, com manifestações, greves e barricadas em ruas de várias cidades, sobretudo Maputo, inicialmente em contestação aos resultados eleitorais de 09 de outubro, convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane.

Os protestos degeneraram em violência com a polícia e provocaram cerca de 400 mortos, bem como a destruição e saque de infraestruturas públicas e em empresas.

Em 23 de março, Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, candidato presidencial que não reconhece os resultados das eleições gerais de outubro, encontraram-se pela primeira vez e assumiram o compromisso de acabar com a violência, tendo voltado a reunir-se em 21 de maio com uma agenda para pacificar o país.

Quase mil empresas moçambicanas foram afetadas pelas manifestações pós-eleitorais, com um impacto na economia superior a 32,2 mil milhões de meticais (480 milhões de euros) e 17 mil desempregados, segundo estimativa apresentada em fevereiro pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).

De acordo com o levantamento feito pela CTA, foram afetadas de "forma direta" pelas manifestações e agitação social que se seguiu às eleições gerais de outubro 955 empresas, em que 51% "sofreram vandalizações totais e/ou saques das suas mercadorias".

PVJ // SB

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