
‘Foi uma corrida muito complicada’, confessou Morbidelli, e essa simplicidade esconde uma verdade brutal sobre o MotoGP. Numa modalidade onde a diferença entre glória e hospitalização se mede em milímetros, ‘quase’ não é uma palavra – é um modo de vida.
Morbidelli admitiu ter quase perdido o controlo três vezes durante a corrida de Aragão, duas delas ‘grandes sustos’ nas curvas 9 e 10. Para o comum dos mortais, isto seria motivo para abrandar, talvez até parar. Para um piloto de MotoGP, é apenas mais um domingo no escritório.
‘Não estava a ter a sensação que esperava’, explicou o italiano, tocando no coração do que separa estes atletas do resto da humanidade. A ‘sensação’ no MotoGP não é apenas feedback – é linguagem. É a moto a falar diretamente com o piloto, sussurrando segredos sobre aderência, potência, limites.
Quando essa conversa íntima se desmorona, quando a máquina deixa de ser extensão do corpo e se torna adversária, é aí que se revela o verdadeiro carácter de um piloto. Morbidelli podia ter-se contentado com o sexto lugar, podia ter jogado pelo seguro. Em vez disso, escolheu lutar.
‘Estou realmente feliz por ter conseguido trazer a moto até ao fim’, disse, e nessa frase esconde-se o sumo da mentalidade de um piloto profissional: a capacidade de transformar o caos em arte, de fazer da instabilidade uma ferramenta, de encontrar velocidade onde outros encontrariam apenas medo.