
Acabou, e sem glória, uma das ligações mais proveitosas da história da Fórmula 1. A Red Bull anunciou esta quarta-feira que Christian Horner, CEO e team principal da equipa, uma das figuras mais relevantes do paddock nas duas últimas décadas, foi dispensado com efeitos imediatos, terminando uma relação de 20 anos em que levou a Red Bull a oito títulos mundiais de pilotos, o último dos quais no ano passado, com Max Verstappen, e seis de construtores.
A decisão surge após um dos fins de semanas mais frustrantes da história recente da Red Bull, com Verstappen a terminar apenas em 5.º em Silverstone, depois de não conseguir acompanhar o ritmo dos McLaren - juntando-lhe ainda um incomum erro -, e Yuki Tsunoda a ser último entre os carros que terminaram o GP Grã-Bretanha. E é uma surpresa, mesmo que desportivamente a temporada esteja a ser uma desilusão. Mas a saída de Horner será o corolário de meses de instabilidade não só desportiva como interna na escuderia de Milton Keynes.
Em comunicado, a casa-mãe Red Bull, gigante das bebidas energéticas, anunciou a saída imediata de Horner e que Laurent Mekies, até hoje team principal da Racing Bulls, equipa satélite da Red Bull, será o novo CEO. Alan Permane substitui Mekies na Racing Bulls.
“Com o seu compromisso, experiência, conhecimentos e pensamento inovador, foi instrumental em estabelecer a Red Bull Racing como uma das mais bem-sucedidas e atraentes equipas da Fórmula 1. Obrigada por tudo, Christian, e vais ser sempre uma parte importante na história da nossa equipa”, pode ler-se num comunicado da Red Bull - a Red Bull Racing mantém-se, para já, em silêncio após esta decisão sísmica.
Christian Horner era o chefe de equipa mais longevo da Fórmula 1. Chegou ao paddock em 2005, para liderar uma Red Bull que cinco anos mais tarde conquistaria o primeiro título de pilotos, com Sebastian Vettel. O alemão venceria o Mundial mais três vezes. No mesmo período, a Red Bull seria também quatro vezes campeã de construtores. Com o advento da era híbrida, a Red Bull viveu uma travessia no deserto, assistindo ao longe ao domínio da Mercedes. A tudo isso Christian Horner sobreviveu.
A chegada do prodígio Max Verstappen à estrutura redundou em novo momento de domínio Red Bull. Com o carro da equipa austríaca, o neerlandês conquistou os quatro últimos títulos de pilotos, mas na última temporada a Red Bull foi ultrapassada nos construtores pela McLaren, depois de uma quebra acentuada de competitividade na segunda metade do ano.
Pelo meio, a dança de colegas de equipa de Verstappen não tem parado. Pierre Gasly, Alexander Albon, Sergio Pérez e já esta temporada Liam Lawson e Yuki Tsunoda - nenhum deles conseguiu aproximar-se sequer do desempenho do líder da equipa e foram sendo dispensados depois de lutarem com um segundo carro da Red Bull muito menos competitivo que o do companheiro.
Agora chegou a vez de rolar a cabeça de Christian Horner, no meio de rumores de que a relação com Max Verstappen já foi mais saudável e meses depois do gestor britânico ter passado aparentemente incólume de um escândalo de assédio sexual na equipa. Uma investigação independente levada a cabo pela Red Bull ilibou Horner de conduta imprópria e a queixosa acabou por ser afastada. Desde aí que a relação de Horner com Jos Verstappen, pai de Max, se tornou um ponto de tensão, com críticas públicas do antigo piloto, que acusou mesmo Horner de “afastar as pessoas”.
Em Silverstone, no último fim de semana, depois de mais uma pobre demonstração em pista da Red Bull, que é apenas 4.ª neste momento no Mundial de Construtores, a Sky Sports alemã deu conta de nova acalorada discussão entre Horner e Verstappen pai. O filho há muito que é associado com uma mudança para a Mercedes e a saída do team principal poderá ser uma tentativa de agradar ao piloto que, com o seu talento, tem conseguido manter a Red Bull à tona.
A equipa tem também assistido à saída de staff relevante, como a de Adrian Newey, o mago da aerodinâmica que levou os seus desenhos para a Aston Martin, e Jonathan Wheatley, antigo diretor-desportivo, que se tornou esta temporada chefe da Sauber.