Desconhecido para muitos, o nome de Ann-Katrin Berger tem estado nas bocas do Mundo futebolístico nos últimos dias, depois da guardiã alemã ter sido heroína e comandado a Alemanha para as meias-finais do Euro feminino. A guarda-redes brilha entre os postes, mas também conta com uma bonita história de superação fora dos relvados.

O seu nome virou moda no eletrizante duelo com França (1-1). As germânicas jogaram 107 minutos, com prolongamento, reduzidas a 10, aguentaram, com uma grande exibição entre os postes de Berger - incluindo uma defesa que correu o Mundo, que deixamos em baixo. Seguiram-se os penáltis e, aí, a guardiã não brilhou menos: além de ter defendido duas penalidades, ainda converteu com sucesso a quinta, para dar a vitória.

Não foi, de resto, situação inédita para Ann-Katrin. Nos Jogos Olímpicos 2024, tinha feito o mesmo, nos quartos de final, contra o Canadá (0-0), demonstrando ser uma especialista nestas ocasiões.

«Sempre me senti muito confortável nas grandes penalidades. Enquanto guarda-redes, não tenho qualquer pressão para defender. A 11 metros, as jogadoras de campo devem marcar, é uma baliza grande. É por isso que sou muito calma. Sinto-me num treino (...) A treinadora nunca me tinha visto bater um penálti. Ela só sabia que eu me sentia confortável», explicou, numa entrevista ao The Women's Game.

O seu passado na formação trouxe frutos. Afinal, nessa altura, Berge passou por todas as zonas do campo - ataque, meio-campo e defesa -, virando-se apenas para a baliza aos 16 anos.

Facilmente percebemos que falamos de uma das melhores da atualidade na sua posição. O seu currículo, de resto, fala por si. Afinal, foi a titular do Chelsea durante largos anos - foi campeã inglesa cinco vezes - e, agora, atua no Gotham FC, da NSWL, considerada a melhor liga do Mundo.

Guerreira dentro e fora de campo

Dentro de campo, Berger brilha e já conquistou muitas e duras batalhas, mas nenhuma como as duas que a vida lhe trouxe fora de campo e esta, felizmente, superou com distinção.

Em novembro de 2017, quando representava o Birmingham City Ladies - que atuava no principal escalão do futebol feminino inglês -, foi diagnosticada com cancro na tiroide, o que a afastou do futebol por mais de três meses. 76 dias depois, superou este problema, embora não de forma definitiva, e voltou a jogar a 10 de fevereiro de 2010, frente ao Everton (0-2), na Women FA Cup. Não mais largou a titularidade.

Tornou-se uma referência em Inglaterra, mudou-se para o Chelsea em 2019 e começou a juntar às grandes exibições, os desejados troféus. De resto, em 2021/22 conquistou mesmo o prémio de Melhor Guarda-redes do campeonato - teve 12 jogos sem sofrer golos.

Estava no auge da carreira, mas a vida colocou-lhe mais um obstáculo. A 23 de agosto de 2022, um mês depois de ter ajudado a Alemanha a ficar em 2º lugar (perdeu na final para Inglaterra, por 2-1) - apesar de não ter realizado qualquer jogo no torneio -, Ann-Katrin anunciou que tinha novamente cancro na tiroide.

Desta vez, a recuperação foi ligeiramente mais rápida. Esteve um mês afastada dos relvados, mas voltou a 25 de setembro, num jogo frente ao Manchester City (2-0). Foi mais que a tempo de fazer a dobradinha nesse ano.

Auge foi no Chelsea @Chelsea FC

«O que aconteceu em 2022 é passado. Olho para o futuro e agora estou a viver a minha melhor vida e estou numa meia-final», afirmou, depois dos quartos de final.

E aí está ela, numa meia-final, onde vai defrontar a favorita Espanha - esta quarta-feira -, na busca pela vaga na final e mais uma gloriosa vitória na sua carreira.