Foram divulgados os resultados da saúde de 2023:

Há mais de 25 mil médicos a trabalhar em Portugal, a maior parte a exercer no SNS – Sendo assim, porque é que ouvimos dizer todos os dias que há escassez de médicos SNS e fecham Urgências em áreas nevrálgicas e outras funcionam nos mínimos? Talvez porque a esmagadora maioria dos médicos trabalham a tempo parcial no SNS. É tempo de pensarmos em horas de trabalho médico, em vez do número absoluto de médicos, sendo ainda pior se misturamos recém-licenciados, internos de especialidade e especialistas!

O número de atendimentos no SU foi de 8,1 milhões, mais 0,6% do que em 2022 e mais 12,4% do que em 2013 – Sabendo que mais de 30% dos recursos ao SU são por doença aguda ligeira a moderada, esta subida só pode traduzir a gritante incapacidade dos Cuidados Primários darem resposta a estes doentes que obviamente lhes pertencem!

Realizaram-se 23,1 milhões de consultas, 60% delas realizadas em Hospitais Públicos, o que corresponde a um aumento de 5,3% em relação a 2022. No entanto, o tempo de espera das consultas não diminuiu e não foi analisada a proporção de consultas telefonadas, cuja qualidade e segurança são difíceis de aferir.

Foram realizadas 1 171 600 cirurgias, 838 600 ocorridas no SNS – Em aparente contradição, as listas de espera das cirurgias não oncológicas não encolheu. Por outro lado, continuamos a não ter qualquer avaliação de resultados, pois o sistema apenas valoriza a produção pura e dura!

A despesa em saúde cifrou-se em 25 559 600 milhões de euros, 17 milhões no SNS e o restante no privado – Tal representa um crescimento de 4,7% em relação a 2022, 10% do nosso Produto Interno Bruto, o que já se aproxima dos países ricos da Europa, como a França (11% do PIB) ou da Alemanha (12,6% do PIB), com a desagradável sensação de que nunca estivemos tão mal.

A olhar estes números exorbitantes da despesa, começo a pensar que fazer menos pode ser mais benéfico para as pessoas. Se houver menos Urgências, é porque se conseguiu uma melhor cobertura de médicos de família. É melhor fazer as cirurgias necessárias no tempo correto, do que fazer talvez demasiadas sem lhes avaliar a utilidade. É melhor ter menos médicos “inteiros” do que ter parcialmente mais alguns.

Gastar dinheiro a rodos, sem políticas corajosas a visar a eficiência, não traz nada de bom à saúde dos Portugueses!

João Araújo Correia

Medicina Interna ULSSA/Porto

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