É uma filosofia de vida ou não fosse cada cabeça uma sentença. Não se desmonta com um estalar de dedos, fará parte da essência de quem nasceu para ser treinador e nos dias que correm cumpre as funções de presidente.

André Villas-Boas (AVB) não tem pressa. Continua a não ter pressa. Parece um daqueles intelectuais que estão mergulhados na sua obra interior e mesmo que um dragão lhes passe à frente do nariz... não há fogo que desvie o olhar para o infinito.

Primeiro era Sérgio Conceição. Ou melhor, já era antes de ser escolhido o discípulo principal. Nem a vitória na Taça de Portugal, há pouco mais de um ano, serviu para manter o mister mais vitorioso do palmarés do FC Porto.

Vítor Bruno, numa decisão arrojada e polémica, foi promovido em junho de 2024 a principal timoneiro de uma nau da qual foi despejado no início deste ano, de nada valendo a circunstância de ter começado a temporada erguendo a Supertaça.

Numa versão muito gratuita, reconheça-se, dir-se-ia que AVB tem aversão aos troféus ou, pelo menos, aos mestres que os arrebatam. Isso poderia explicar o facto de Martín Anselmi permanecer oficialmente em funções.

JUSTIN LANE

Como a única coisa que ganhou nos cinco meses na Invicta foi a aversão de muitos adeptos e a ausência de qualquer... filosofia de jogo, o argentino continua a ser a pedra dourada no sapato do homem que o contratou, até ao momento incapaz de fechar o dossiê de uma rescisão que estava no ar desde o tempestuoso regresso dos Estados Unidos.

Na prática, Anselmi viu fugir-lhe o tapete assim que a equipa terminou a participação no Mundial de clubes com zero vitórias, levando a estrutura portista a multiplicar os esforços para fazer constar que o senhor que se segue responde pelo nome de Francesco Farioli.

Francesco Farioli
Francesco Farioli Soccrates Images

O atual FC Porto exibe uma forma de gestão que roça os limites do amadorismo, deixando cair um treinador que foi tranquilamente de férias e que até ontem não se desvinculou e ainda por cima consentindo que o próximo da lista seja anunciado aos quatro ventos quando a cadeira segue ocupada.

Outrora detentor do recorde de transferências no mercado de treinadores (por obra e graça dos 15 milhões de euros pagos por Roman Abramovich em 2011), Villas-Boas arrisca-se a desafiar os números dos piores presidentes do universo azul e branco, sobretudo no que toca à gestão do futebol.

Sempre com base nos mínimos que é preciso cumprir em obediência à grandeza e ao prestígio da instituição que lidera, o sucessor de Pinto da Costa tem cometido vários erros de casting que não surtiram o efeito desejado, com destaque para a escolha de Andoni Zubizarreta para diretor desportivo.

O despedimento do ex-jornalista Martin Anselmi sem que ninguém acima dele sinta a obrigação de assumir a responsabilidade pelo falhanço da contratação e de um projeto que foi vendido como revolucionário faz crer que quem manda está demasiado preso a compromissos de um passado em que certos papéis estavam invertidos.

Bolo para a frente

Et voilà, no reino de Alvalade sucede o mesmo no que diz respeito ao posicionamento de Frederico Varandas no interminável braço de ferro com Viktor Gyökeres. Noutro tempo tolerante perante o “gigantismo” da cláusula de rescisão do avançado (100 milhões de euros), mostra-se agora irredutível face a propostas que podem contemplar um total de 70 milhões de euros, com 60 deles à cabeça.

Armando Franca

O cerne desta questão nem sequer se situa na existência ou não de uma promessa feita por Varandas ou por Hugo Viana em torno dos 60+10. Na verdade, essa é uma matéria irrelevante, começando pelo simples facto de um responsável automaticamente implicar o outro. Na eventualidade de ter sido Viana a protocolar esses números com a entourage de Gyökeres, não é equacionável que o seu chefe estivesse à margem dos termos ou desconhecesse a natureza do acordo.

Seria de todo impensável que o substituto de Txiki Begiristáin no Manchester City passasse por cima de quem lhe estava... acima, ocultando-lhe informação preciosa numa das pastas mais importantes da governação. O que está sobretudo em causa tem a ver com a falta de flexibilidade de alguém que parece querer regular o mercado de transferências, assumindo-se como o barómetro do preço de vários atletas e colocando em risco o grau de disponibilidade do protagonista dos dois campeonatos festejados de forma consecutiva.

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Dando de barato a comparação que o líder leonino faz entre determinados negócios no plano internacional e a hipótese de um bolo de 70 milhões representar a venda mais cara da história do clube (superando os 65 milhões que o Manchester United pagou por Bruno Fernandes), o que acaba por ser inconcebível neste processo é a forma temerária como desafia os potenciais interessados, fixando uma fasquia mínima perante o desagrado do futebolista e o manifesto desejo de experimentar a Premier League.

Tamanha teimosia, neste contexto, até serve para desvalorizar o camisola 9, porque quem vai sentar-se à mesa para comprar sabe que o alvo das negociações quer sair e exerce pressão em conformidade. Poucos saberão se o Sporting pode dar-se ao luxo de deitar fora 70 milhões de euros e/ou ficar com um goleador contrariado, mas as duas condições, a confluírem, podem rotular Varandas, também ele, como um dos piores presidentes do Mundo (verde e branco), para usar as palavras empregues pelo próprio para caracterizar a filosofia do empresário que faz a cabeça do super-herói da máscara