No rescaldo das eleições legislativas, muito se tem falado de aritmética parlamentar, acordos possíveis, coligações improváveis. Mas, para lá da espuma política, há um país que continua a viver, a trabalhar, a decidir. E a incerteza política tem um custo. Não é um custo abstrato, é real: afeta a confiança, atrasa decisões de investimento, congela planos de crescimento, alimenta o receio dos consumidores.

Num momento em que Portugal enfrenta desafios estruturais, do crescimento económico à sustentabilidade da Segurança Social, da habitação ao papel do Estado na economia, o sentido do voto deveria ter sido também uma resposta a essas questões. Mas será que foi?

Com um novo ciclo político prestes a começar, torna-se urgente reforçar um debate que tem andado demasiado ausente: o da educação económica e financeira. Porque se é verdade que votar é um ato cívico, também é, cada vez mais, um ato económico. E compreender as consequências práticas das opções políticas, nas contas públicas e privadas, é essencial para empresas e cidadãos.

As empresas, por exemplo, precisam de previsibilidade para tomar decisões de médio e longo prazo. E a indefinição sobre impostos, incentivos, reformas e investimento público pode travar muito mais do que parece. Já os consumidores, pressionados por uma inflação persistente, taxas de juro ainda altas e salários que nem sempre acompanham o custo de vida, reagem com prudência. Cortam onde podem. Adiam o que não é essencial.

Neste cenário, o mais importante talvez seja lembrar que a política económica não é só feita no Parlamento. É feita, todos os dias, nas escolhas que os cidadãos e as empresas fazem: onde investem, como poupam, o que consomem, o que adiam. Mas para que essas escolhas sejam racionais, é preciso que o contexto seja claro, e estável.

A instabilidade política tem, por isso, um impacto que vai muito além dos círculos de poder. Mexe com a confiança. E sem confiança, a economia desacelera.

A democracia não termina no voto. Começa aí. Mas o resto, o futuro, depende da clareza com que o país for capaz de tomar decisões informadas, tanto nas urnas como fora delas.