Num registo que aliou firmeza institucional à inquietação de quem está há anos a trabalhar com os alicerces do digital, Luisa Ribeiro Lopes defendeu que a transformação tecnológica no ensino não se resume à presença de dispositivos nas salas de aula ou ao acesso à internet. O verdadeiro desafio — disse — é o modo como essa tecnologia é usada e, sobretudo, quem tem acesso a usá-la de forma crítica e criativa.

“Os níveis de capacitação e o percurso educativo que temos de fazer com os nossos alunos não podem perpetuar os riscos de desigualdades, que já existem.”

Num país onde a grande maioria dos jovens entre os 15 e os 25 anos usa a internet todos os dias, a pergunta que se impõe — como bem sublinhou — é: de que maneira a estão a usar? O acesso não equivale a literacia. E a literacia, no contexto digital, exige uma base educativa sólida, inclusiva e sensível às disparidades sociais.

A líder do .PT alertou ainda para a ilusão da neutralidade tecnológica. A pandemia, lembrou, acelerou a digitalização, mas também evidenciou falhas estruturais no acesso e na capacidade de uso efetivo das ferramentas digitais. E essa aceleração, sem acompanhamento pedagógico e social, pode não ser um progresso — pode ser um reforço das assimetrias.

“Temos grandes desigualdades na sociedade e nos jovens que estão no ensino. E não as podemos perpetuar. A IA pode ajudar, mas não temos todos os mesmos acessos e a situação. Tudo depende do meio educativo e do meio familiar.”

Luisa Ribeiro Lopes propôs um modelo de futuro construído não só com infraestrutura, mas com valores. Um modelo assente em coragem, criatividade e conexão. Defendeu a necessidade de criar espaço para a liberdade de pensamento e para a expressão individual dos jovens, incentivando a sua capacidade de se tornarem criadores e não apenas consumidores de tecnologia.

“Precisamos da coragem, da criatividade ou inquietação e da conexão. Temos de dar também aos jovens o tempo e a liberdade para termos a capacidade de sermos criadores.”

O caminho, reiterou, não se faz apenas dentro das escolas. É um esforço coletivo que envolve pais, professores e alunos. É preciso promover uma cultura digital consciente, onde cada tecnologia usada seja percebida como um instrumento de empoderamento — e não um fator de exclusão.

“Temos de trabalhar com os pais, professores e alunos, para perceberem que o que é utilizado é para o seu bem.”

Na intervenção de Luisa Ribeiro Lopes, o digital não foi apresentado como um fim, mas como um meio. Um meio que exige visão, responsabilidade e, sobretudo, compromisso com a equidade. Num mundo em que a Inteligência Artificial começa a entrar nas salas de aula, a presidente do .PT recordou que a verdadeira inovação começa no essencial: educar com justiça, capacitar com intenção e transformar com humanidade.