
O presidente do Chega, André Ventura, garantiu esta segunda-feira, em Lagos, que o seu partido não hesitará em derrubar no parlamento um Governo que promova a devolução de bens às antigas colónias ou adote uma visão que, segundo o próprio, “culpe Portugal pela sua História”.
As declarações surgiram no final da cerimónia do Dia de Portugal, no distrito de Faro, em reação aos discursos da escritora Lídia Jorge, presidente das comemorações, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Embora nenhuma das intervenções tenha abordado diretamente o tema das reparações coloniais, Ventura levantou a polémica, afirmando que detetou uma tentativa de “multiculturalizar” a identidade portuguesa.
“Portugal não vai devolver nada”, afirmou com veemência, referindo-se a recentes notícias que davam conta de pedidos de devolução de obras de arte e riquezas por parte de Moçambique. O líder do Chega considerou esses pedidos ofensivos e garantiu que, da parte do partido, “não haverá nenhuma aceitação de políticas revisionistas”.
“Se Portugal devolvesse o que quer que fosse, também tinham de devolver os milhões investidos em estradas, hospitais, escolas, cultura”, declarou aos jornalistas, apontando que o país deve orgulhar-se do seu passado e não aceitar “culpas fabricadas”.
Ventura criticou o que considera ser um discurso político em curso que visa responsabilizar os portugueses pelo colonialismo e pelo tráfico de escravos, rejeitando a ideia de qualquer pedido de desculpas ou compensação financeira. “Portugal teve um papel na História, como outras nações. Mas não vamos chicotear-nos nem assumir culpas que não nos pertencem”, reiterou.
Durante o contacto com os populares no final da cerimónia, Ventura foi aplaudido e abordado por dezenas de pessoas, mantendo-se no local a cumprimentar durante cerca de 20 minutos. O líder do Chega aproveitou para reforçar as suas críticas ao excesso de imigração e lamentou a ausência do tema nos discursos oficiais. “Tanto se falou de multiculturalidade, mas ninguém teve a coragem de admitir que Portugal tem um problema com a imigração”, atirou.
Sobre o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu a valorização dos antigos combatentes, mas disse lamentar que não tenha sido feita uma referência mais direta aos desafios atuais da sociedade portuguesa.
Esta intervenção de André Ventura surge numa altura em que o Chega tenta manter-se no centro do debate político, pressionando o Governo e marcando uma linha vermelha clara em temas identitários e históricos. O aviso é direto: qualquer tentativa de rever a História ou indemnizar antigas colónias poderá custar ao Governo a sua queda.