
A propósito do discurso da escritora Lídia Jorge, nas celebrações do 10 de Junho, muito embora alguns ânimos se tenham exaltado com um pretenso excerto especialmente inflamado que viria a revelar-se forjado, a verdade é que, lendo o discurso na íntegra, o mesmo continua a suscitar-me reservas!
Devo dizer que, em termos de qualidade literária, o discurso é irrepreensível, não é a forma que está em causa, e até tem excertos bonitos, o problema é o conteúdo, um segundo problema são as entrelinhas, e um terceiro é o perigoso caminho por onde seguimos.
O que me incomoda é a apologia da subserviência, do pedir perdão pela nossa história, da anunciada desfragmentação e banalização de “ser Português “. Não fomos santos, nenhum Estado se constrói da Santidade ( nem o Vaticano, aliás, antes bem pelo contrário), mas não fomos mais violentos que outros povos, fomos lutadores, corajosos, aventureiros, pioneiros.
Não me faz sentido esta apologia dos resignados pecadores impuros ( claro que somos, toda a Europa o é) que humildemente se ajoelham e se resignam com a sua insignificância. Camões, Pessoa, Eça e tantos outros não merecem esta subserviência, esta negação da alma Portuguesa, este repúdio do nosso legado histórico.
Não permitamos que um qualquer obscuro “Ministério woke” nos apague do mapa e da história. Somos Portugueses, muito lutámos para o ser, não desistamos de nós em tempos tão sombrios. E posto isto, deixo-vos com Mar Português, de Fernando Pessoa!
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador,
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.