
Durante nove dias, entre 2 e 10 de agosto, Redondo volta a receber um dos mais emblemáticos eventos de arte comunitária em Portugal. As Ruas Floridas regressam em 2025 com 25 ruas decoradas, mobilizando centenas de voluntários e consumindo quantidades inéditas de materiais. Mais do que um certame festivo, este é um fenómeno cultural de raiz popular que alia tradição, identidade e trabalho coletivo numa escala impressionante.
As ruas da vila alentejana tornam-se galerias a céu aberto, totalmente revestidas com estruturas tridimensionais construídas a partir de papel, madeira, arame e esferovite. Cada artéria apresenta um tema distinto, escolhido e desenvolvido pelos seus moradores, que assumem o processo de conceção, produção e montagem de forma totalmente voluntária.
A dimensão logística da iniciativa é reveladora do esforço que sustenta esta tradição. Estão envolvidas centenas de quilos de materiais diversos, desde papel crepado e papel seda (mais de 13 mil rolos) a colas industriais, ripas de madeira e milhares de agrafos e parafusos. É um trabalho minucioso que se prolonga durante meses, em que os habitantes constroem peças decorativas ao detalhe, num processo que conjuga métodos artesanais e soluções técnicas de montagem.
O papel, elemento central desta tradição, é tratado com precisão. Recortado, dobrado, colado e modelado, é transformado em flores, animais, personagens, monumentos e paisagens. Mas por detrás da aparência leve dos materiais, existe uma estrutura complexa de suportes, armações e acabamentos que requerem conhecimentos de carpintaria, engenharia básica e desenho técnico.
A história das Ruas Floridas tem raízes no século XIX. Os primeiros registos remontam a 1838, quando os moradores começaram a ornamentar portas e janelas por ocasião das festividades religiosas. A tradição foi retomada em 1976, mas foi em 1993, com o apoio da Câmara Municipal, que o evento ganhou nova força, consolidando-se como uma das principais manifestações culturais da região.
Desde então, a dimensão do evento não parou de crescer, ganhando visibilidade nacional e atraindo milhares de visitantes a cada edição. Redondo tornou-se, com as Ruas Floridas, um caso singular de envolvimento comunitário e de projeção turística com base numa prática inteiramente local. O reconhecimento não tardou a chegar, com distinções como o Prémio “Iniciativa Turismo do Alentejo” e o título de “Mais Tradição” atribuído pela revista Mais Alentejo.
Ao longo dos anos, a sustentabilidade tem sido também uma preocupação crescente. Parte significativa dos materiais é reaproveitada de edições anteriores ou adquirida com critérios de durabilidade e reutilização. Ainda assim, o investimento material e humano permanece elevado, o que reforça o carácter extraordinário da iniciativa.
A edição de 2025 mantém essa linha de continuidade e inovação. Cada rua apresenta um conceito novo, desenvolvido em segredo até à abertura oficial. Durante os dias do evento, os visitantes percorrem um itinerário de cor, detalhe e imaginação, onde cada cenário é resultado de meses de trabalho silencioso, feito à margem do quotidiano, mas com o envolvimento ativo de toda uma comunidade.
As Ruas Floridas não se limitam a uma vertente estética. São, acima de tudo, um exercício de coesão social, uma manifestação de cidadania e um testemunho de património imaterial vivo. Redondo transforma-se temporariamente, mas o que ali se constrói tem efeitos duradouros na vida local, na autoestima coletiva e na afirmação cultural do território.