A direção nacional do PSD vai anunciar nos próximos dias o apoio oficial à candidatura de Maria das Dores Meira à presidência da Câmara Municipal de Setúbal. A decisão gera forte polémica interna, uma vez que contraria frontalmente a vontade da estrutura concelhia social-democrata, que se opõe a qualquer aliança com a antiga autarca da CDU.

Sem apresentar candidato próprio, o PSD opta por apoiar o movimento “Setúbal de Volta”, liderado pela ex-presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, agora como independente. A decisão foi avançada pelo Expresso e confirma um reposicionamento estratégico da liderança nacional social-democrata, visando conquistar uma câmara aonde o partido nunca venceu, mas onde tem historicamente mantido influência relevante.

Fernando Negrão, que encabeçou a lista do PSD nas últimas autárquicas, já reagiu com dureza à decisão, classificando-a como uma “incompreensão total” por parte da direção nacional. “É desistir de um distrito inteiro”, afirmou ao semanário, lembrando que, apesar de nunca ter alcançado a presidência da câmara, o PSD conseguiu sempre condicionar o debate político local.

A concelhia social-democrata de Setúbal, que se mostra frontalmente contra o apoio à antiga comunista, irá reunir-se a 3 de julho para tomar uma posição formal. No entanto, a decisão que prevalecerá é a da distrital de Setúbal, liderada por Paulo Ribeiro, atual secretário de Estado da Administração Interna, e validada pela cúpula nacional do PSD, nomeadamente por Luís Montenegro e Hugo Soares.

Segundo o Expresso, Maria das Dores Meira conta também com o apoio do CDS, embora esse apoio ainda não tenha sido oficialmente anunciado. A estratégia da antiga autarca passa por construir uma frente alargada de direita capaz de disputar o poder à CDU e ao PS.

Nas eleições de 2025, a CDU avança com o atual presidente de câmara, André Valente Martins (PEV/PCP), que procura renovar o mandato. O Partido Socialista repete a candidatura de Fernando José, o mesmo nome que concorreu há quatro anos e ficou em segundo lugar. Já o Chega apresenta Lina Lopes, antiga dirigente do PSD e ex-presidente das Mulheres Sociais-Democratas.

O apoio a Maria das Dores Meira marca um momento de rutura no seio do PSD, que sacrifica a sua autonomia eleitoral no concelho em nome de uma possível vitória. A aposta numa ex-dirigente comunista, embora agora independente, provoca divisões internas, mas representa uma tentativa de abalar o domínio da CDU e travar o crescimento do PS e do Chega no território.

Com este movimento, o PSD nacional arrisca-se a perder a sua base tradicional em Setúbal, mas também poderá recolher os dividendos de um apoio estratégico a uma candidata com forte notoriedade local e histórico de vitórias consecutivas no município.

A campanha promete ser das mais polarizadas dos últimos anos, com antigos adversários políticos agora lado a lado e um campo da direita fragmentado entre alianças inesperadas e candidaturas dissidentes.