
Apesar da afluência de visitantes, a 41.ª edição da Ovibeja revela sinais de esvaziamento técnico e económico, afastando-se do seu papel estruturante no setor agrícola e transformando-se num evento mediático com fraca presença digital e benefícios concentrados na entidade organizadora.
Realizada de 30 de abril a 4 de maio de 2025, a organização anunciou com entusiasmo ter ultrapassado os 100 mil visitantes. No entanto, este número, embora expressivo, não oculta uma tendência preocupante: a transformação gradual da feira de um evento técnico e agrícola para um espetáculo de vaidades, onde o brilho mediático parece sobrepor-se à substância e à relevância para o setor agrícola nacional.
A Ovibeja sempre foi um ponto de encontro para agricultores, técnicos e profissionais do setor, promovendo debates e apresentações de inovações tecnológicas. Nesta edição, o tema “+ Agricultura + Futuro” prometia uma reflexão profunda sobre o papel da agricultura na economia global e na sustentabilidade ambiental. Contudo, a presença de mais de mil expositores, muitos dos quais fora do âmbito agrícola, e a ênfase em eventos culturais e gastronómicos, como o “Comboio do Cante” e os concertos noturnos, desviaram o foco principal da feira.
A comunicação da Ovibeja nas redes sociais também deixa a desejar. A presença limitada em plataformas como YouTube e Facebook reduz a visibilidade do evento e impede uma divulgação eficaz das inovações e debates realizados. Em tempos onde a comunicação digital é essencial, esta falha representa uma oportunidade perdida para envolver um público mais amplo e diversificado.
A organização da Ovibeja está a cargo da ACOS – Associação de Agricultores do Sul. Embora a associação desempenhe um papel importante na promoção da agricultura na região, a concentração dos benefícios económicos e promocionais nas mãos de um único promotor levanta questões sobre a equidade e a distribuição justa dos recursos e oportunidades gerados pelo evento.
Em suma, a Ovibeja enfrenta o desafio de reencontrar o seu propósito original. Para manter a sua relevância, é essencial que a feira reforce o seu compromisso com o setor agrícola, melhore a sua comunicação digital e assegure uma distribuição equitativa dos benefícios entre todos os participantes. Caso contrário, corre o risco de se tornar apenas mais um evento festivo, distante das necessidades e desafios reais da agricultura portuguesa.