Azeméis tem o dom de presentear a sociedade com talentos, exemplos de ambição, humildade, tenacidade e progresso – da arte à religião, do desporto à medicina, sem esquecer esferas industriais – figuras que alavancam a valorização do concelho. Vivenciar diferentes contextos permite-me beber da sabedoria, experiência e inerente loucura de conterrâneos e mestres. A maioria regressou ao concelho – respeitando o coração – ainda que o talento seja condicente com as metrópoles, que, por sua vez, compensariam a saudade e o “pilim” com doses de ego e mediatismo.

Ora, o nãoLUGAR. Meu e seu. Perdão, teu. Nosso e de desconhecidos. Um lugar real, sem estratos, elo crucial e ansiado por milhares de jovens. Numa fase determinante – antes de serem desafiados pelo “sistema” – enriquecerem a alma, escutam e argumentam, desconstroem e revolucionam perspetivas, sempre pela via da liberdade. Este é o nãoLUGAR, missão encabeçada por Brígida Ramos, ávida de revelar e valorizar a fibra da juventude. Sem interesses escamoteados, puro serviço público.

Depois de delinear um estonteante mês de festas em honra a Nossa Senhora de La Salette em 2005 – com Sérgio Godinho e Clã ao barulho, sem dispensar as dinâmicas tradicionais – o nome de Brígida Ramos volta a ecoar no centro da cidade, para “alergias” alheias. Esta oliveirense abdicou de oportunidades mais proveitosas, queimou maldizeres e voltou a investir em Azeméis, a pensar na juventude amarrada às lides da pandemia, de elos voláteis e fictícios.

Assim nasceu o nãoLUGAR, no final de 2024, projeto promovido pelo município e incluído no Plano de Ação das Comunidades Desfavorecidas – Percurso com Sucesso. Em todo o caso, este é um espaço despolitizado. No nãoLUGAR, egos, invejas, “inverdades” e desconfianças ficam à porta. Neste grupo vence-se em união, à boleia de astúcia, coragem e humildade.

Quanto à sede, a solução esteve na boa-fé dos Bombeiros Voluntários, que cederam o topo do antigo quartel, o palco ideal para dinâmicas artísticas, debates e reflexões nas tardes de quarta-feira. Em simultâneo, o exigente processo de limpeza culminou na recuperação de vários compartimentos, viabilizando, por exemplo, a organização de uma pequena sala de cinema, a batizar como “Cineclube Matos Barbosa”. Noutras divisões há referências a Ferreira de Castro, à fábrica do papel e ao vidro soprado.

Atentem: empreitadas protagonizadas por jovens de diferentes estratos, no silêncio, sem mediatismo. O resultado é motivo de orgulho. Visite, desafie-se. A porta do nãoLUGAR – desta procura de pertença – está escancarada. Até aos críticos por vocação.

Embalados por Brígida e companhia, dezenas de jovens provam que as novas gerações também aprimoram a honestidade intelectual, sem pensar em cargos de liderança ou de poder. Utópico, ingénuo? Uma lição. Nesta maratona temos três opções: abraçar o “sistema”, ser burlado pelo “antissistema”, ou desconstruir e melhorar o “status quo”. Estou em crer que esta última é a opção mais democrática e desafiante.

Na tarde de sexta-feira – 25 de julho – tive o privilégio de, entre amigos e ao lado do meu irmão Dinis (protagonista d’oAlternativo), conhecer o nãoLUGAR e a Geração AZ, projetos repletos de desafios. Continuam a superar muros, reinventando-se, enquanto o concelho acorda para o legado em construção. Para além de histórias e debates, aquela tarde revelou, em pleno, o belo mural pintado pelo artista “The Caver” e pela juventude oliveirense. A obra concretizada numa semana sublinha o inegável: o nãoLUGAR veio para ficar.

Vai agravar “alergias” de charlatões e alegados doutores, avessos a jardins verdejantes e públicos no coração de Azeméis. Este grupo reside no antigo quartel, projeta-se para o concelho e promete extravasar fronteiras. São motivo de orgulho e esperança.

Ao nãoLUGAR deixo votos demolhados em esperança, na certeza de que o projeto perdurará para lá de dezembro, recebendo a confiança do executivo municipal. Os resultados estão à vista e vão muito para lá de números. Em equação está o futuro.

Em frente! Este é o nosso LUGAR.

Santiago de Riba-Ul, 28 de julho de 2025 Inevitavelmente ao som de NAPA