
O Palácio da Justiça, em Lisboa, acolhe esta sexta-feira a quarta sessão do julgamento que opõe os irmãos Nélson e Sérgio Rosado, do duo musical Anjos, à humorista Joana Marques. Em causa está um vídeo satírico publicado em 2022, que brinca com a atuação dos cantores na interpretação do Hino Nacional durante o MotoGP, e que, segundo os queixosos, lhes causou danos de imagem. A indemnização pedida ultrapassa um milhão de euros.
O vídeo, partilhado nas redes sociais de Joana Marques, incluía imagens dos Anjos misturadas com trechos do programa “Ídolos”, dando a entender que os comentários dos jurados se dirigiam aos cantores. Um dos rostos visíveis na montagem foi o cantor Tatanka (Pedro Taborda), que foi chamado a depor. Questionado pela defesa dos Anjos se achou o vídeo engraçado, Tatanka respondeu:
“Se teve alguma piada, já a perdeu. Na altura teve, agora já não tem piada nenhuma. Todas as partes preferiam não estar aqui.”
Durante o seu testemunho, Joana Marques foi clara ao afirmar que o objetivo do vídeo era humorístico.
“Era para rir, sim. A minha intenção é igual em tudo o que faço: fazer rir”, afirmou à juíza.
A humorista recusou que o seu trabalho constitua bullying, e considerou desproporcional a reação ao vídeo, sublinhando que a sátira é parte essencial do seu estilo.
“Quem sofre bullying a sério, se lhes perguntássemos se preferiam ser perseguidos ou alvo de uma piada, certamente preferiam uma piada.”
A defesa dos Anjos sugeriu que o vídeo poderia ter desencadeado reações negativas, ao que Joana respondeu:
“Não conheço todos os meus seguidores, mas penso que vão à minha página à procura de conteúdos de humor.”
Sobre a gravidade do conteúdo, foi perentória:
“Não vejo com essa gravidade. Era um vídeo que já estava viral quando chegou até mim. Recebo constantemente conteúdos destes dos meus seguidores.”
A publicação em causa teve cerca de 150 mil visualizações — um número que Joana considera “até abaixo da média” para o seu Instagram. Apesar de ter recebido uma notificação formal com exigência de remoção do vídeo e pedido de desculpas, a humorista recusou-se a ceder.
“Respondi com base no direito à liberdade de expressão. Não me revi nessa exigência.”
Ao ser confrontada com os limites do humor, respondeu:
“Os que estão na lei. Os da liberdade de expressão.”
A sessão terminou com as alegações finais, num processo que levanta questões centrais sobre os limites entre sátira, liberdade artística e direitos de imagem.