
A Indian Motorcycle, uma das marcas mais antigas e icónicas do universo das duas rodas, acaba de lançar uma coleção que vai além do simples vestuário. Em colaboração com o artista nativo-americano Jeremy Arviso, a marca apresentou uma linha exclusiva que alia expressão cultural, design contemporâneo e apoio a causas sociais.
Fundada em 1901, antes mesmo da Harley-Davidson, a Indian construiu uma imagem fortemente associada à iconografia indígena norte-americana. No entanto, importa recordar que, apesar das referências a cocares e motivos tribais, a marca nunca pertenceu a comunidades nativo-americanas. Criada por engenheiros em Massachusetts e atualmente sob a alçada da Polaris Industries, a Indian tem usado ao longo das décadas uma linguagem visual inspirada em culturas indígenas—com interpretações que tanto foram vistas como homenagens como criticadas por apropriação cultural.
Com esta nova iniciativa, a marca procura mudar essa narrativa, optando por uma abordagem baseada na colaboração autêntica e no respeito mútuo.

Jeremy Arviso, artista multifacetado de Phoenix com raízes Navajo, Hopi, Akimel O’odham e Tohono O’odham, é conhecido por integrar simbolismo indígena em peças com forte estética urbana. Com trabalhos anteriores para marcas como a Nike, NFL e Phoenix Suns, Arviso assina agora aquela que poderá ser a sua colaboração mais carregada de significado até ao momento.
A coleção cápsula Indian Motorcycle x RVSO é composta por nove peças, incluindo t-shirts para homem e mulher, um top, sweatshirts e bonés. Cada design reflete elementos da cultura indígena: o Círculo Sagrado e as quatro cores tradicionais—branco, vermelho, preto e amarelo—representam os quatro pontos cardeais, as estações do ano e os ciclos da vida. As setas estilizadas, marca pessoal de Arviso, evocam movimento, propósito e espiritualidade.
‘Para esta coleção, inspirei-me na identidade visual da Indian Motorcycle, incorporando cor vibrante e elementos indígenas com muito cuidado’, explica Arviso. ‘Cada peça representa uma ligação profunda à terra, à comunidade e à herança cultural’.

Parte das receitas será revertida para a Change Labs, uma organização sem fins lucrativos liderada por indígenas que apoia empreendedores das nações Navajo e Hopi. Mais do que uma linha de roupa, trata-se de uma declaração de intenções e um passo em direção a um envolvimento mais respeitoso e significativo com as comunidades nativo-americanas.
Num contexto em que muitas marcas são criticadas por representações superficiais, esta iniciativa destaca-se por entregar controlo criativo a um artista indígena e investir verdadeiramente nas comunidades que historicamente inspiraram a marca. Trata-se de um gesto com impacto simbólico e prático, que poderá representar um ponto de viragem no modo como o sector motociclístico lida com identidade, arte e responsabilidade social.
Afinal, o motociclismo sempre foi mais do que deslocar-se de um ponto a outro. É liberdade. É expressão. E, agora mais do que nunca, também é arte.