
Os bancos devem ser mais proactivos na construção de pontes com o tecido empresarial, apostando na inovação de produtos, na partilha de know-how e numa abordagem segmentada às necessidades de financiamento, considerou esta Terça-feira, 10, em Luanda, o secretário de Estado para as Finanças e Tesouro, Ottoniel dos Santos.
“As empresas precisam de melhorar os seus rácios de capital próprio, a qualidade da sua informação financeira e a robustez dos seus planos de negócio”, incentivou.
Ottoniel dos Santos que discursava na 19.ª edição da Banca em Análise 2025, certame promovido pela Deloitte Angola, sublinhou que a banca, mais do que qualquer outro sector económico, é construída sobre a confiança, confiança dos depositantes, dos mutuários, dos supervisores e dos investidores.
“E essa confiança é sustentada, em larga medida, pela solidez dos balanços, pela prudência da gestão e, não menos importante, pela conduta ética dos profissionais”, sustentou.
Neste domínio, o responsável afirmou que o Governo tem reiterado que a regulação e a supervisão são necessárias, mas não suficientes.
“A cultura institucional, os princípios de governação e o sentido de responsabilidade pessoal são a linha da frente na prevenção de más práticas. Como já referimos noutras ocasiões, a virtude não se regula, cultiva-se. Cultiva-se na liderança, nas rotinas, na forma como as instituições se posicionam perante os dilemas éticos e as pressões do curto prazo”, ressaltou.
A supervisão comportamental, segundo observou, deve continuar a merecer atenção prioritária, tanto no que respeita à relação dos bancos com os seus clientes, como na forma como promovem a literacia financeira, a inclusão e a transparência.
“O esforço do Banco Nacional de Angola neste sentido tem sido notável, e é da mais elementar justiça reconhecer o seu impacto positivo no reforço da credibilidade do sistema”, referiu.
Transição digital e adopção de soluções de inteligência artificial
O Governo angolano destaca que a banca deve continuar a reinventar-se, apontando que a pressão competitiva, as exigências tecnológicas e a mudança nas preferências dos clientes obrigam a uma transformação permanente.
Neste sentido, o secretário de Estado para as Finanças e Tesouro defendeu que a transição digital e a adopção de soluções de inteligência artificial devem estar ao serviço da conveniência, da segurança e da personalização dos serviços, mas nunca em prejuízo da humanização do atendimento e da proximidade às comunidades.
“A modernização tecnológica não pode substituir a escuta activa, a empatia nem o compromisso com o desenvolvimento local. Devemos, pois, combinar inovação com inclusão, colocando a tecnologia ao serviço das pessoas”, apontou.
Durante a sua intervenção, o responsável, que falava em representação da ministra das Finanças, Vera Daves, detalhou que a economia real, e com ela, o rendimento das famílias, a criação de emprego e a geração de oportunidades, depende de um sistema bancário funcional, acessível e alinhado com os objectivos do desenvolvimento sustentável.
“O ano de 2025 impõe-nos exigências redobradas. O quadro macroeconómico internacional está a tornar-se mais volátil. A queda dos preços do petróleo, combinada com uma procura global menos robusta, obriga-nos a acelerar reformas, melhorar a execução orçamental e proteger os mais vulneráveis”, alertou.
As previsões mais recentes, explicou, indicam uma trajectória descendente da inflação, ainda que num patamar elevado, e alguma estabilização nas taxas de juro internacionais.
“Este ambiente cria condições para uma política monetária mais previsível e exige da banca uma atenção redobrada à gestão de risco de crédito, de liquidez e de capital”, precisou.
Como ficou sublinhado nas mais recentes avaliações do Fundo Monetário Internacional (FMI), “é essencial manter a trajectória de consolidação orçamental, reforçar os amortecedores fiscais e continuar a aposta em políticas pró-mercado, num ambiente de governação previsível, simples e transparente”.
Salientou ainda que deve-se continuar a melhorar o ambiente de negócios, reduzir os custos de contexto e atrair mais investimento estrangeiro directo, com especial enfoque nos sectores com maior valor acrescentado e capacidade de exportação.
Para que esse investimento se traduza em ganhos concretos para a economia real, Ottoniel dos Santos acredita ser essencial garantir a existência de um sistema financeiro eficiente, transparente e mobilizador de capital.
“A banca, nesse sentido, assume um papel vital: na canalização da poupança para o investimento produtivo; no apoio às exportações; na disponibilização de instrumentos de cobertura de risco; e na promoção de uma intermediação financeira responsável, sensível às exigências da produtividade e da sustentabilidade”, acrescentou.