
Três atrizes nacionais, bem conhecidas do grande público e com presença nas redes sociais, falam sobre o impacto destes mundos virtuais no seu trabalho. O debate aconteceu durante a terceira edição da Forbes Women Summit, que aconteceu esta semana no SUD em Lisboa, e juntou, no painel “O Poder do Algoritmo”, as atrizes Rita Pereira, Ana Marta Ferreira e Sónia Balacó, que assumiu o papel de moderadora.
Rita Pereira explicou à assistência que trabalha sobretudo com o Instagram e com o Tik Tok, tendo já deixado o Youtube, porque “não tinha paciência para fazer vídeos muito grandes”. Já Ana Marta Ferreira assume que não se identifica muito com o Tik Tok e que trabalha muito mais com o Instagram.
“Sinto que tive de aprender a mexer nas redes sociais, a estar presente e como se faz. Para mim foi um desafio, acho que ainda continua a ser, porque o meu foco principal não são as redes sociais, não é ser influencer, é ser atriz”, esclarece Ana Marta Ferreira.
Questionada pela colega de profissão, Sónia Balacó, sobre o impacto das redes sociais no seu trabalho, Rita Pereira explica que “as redes sociais nos ajudam a estarmos presentes, a sermos vistas”. Ana Marta Ferreira acrescenta que estas são quase como um cartão de visita, ou seja, um currículo ao vivo. Contudo, explica que o seu foco continua a ser o seu papel de atriz. “Sinto que tive de aprender a mexer nas redes sociais, a estar presente e como se faz. Para mim foi um desafio, acho que ainda continua a ser, porque o meu foco principal não são as redes sociais, não é ser influencer, é ser atriz. Continua a ser uma aprendizagem constante”, esclarece.
No entanto, questionadas por Sónia Balacó, sobre se as redes sociais já lhe trouxeram trabalho como atrizes, Ana Marta Ferreira acredita que não, e Rita Pereira afirma que é algo que nunca vai saber. “Isto não é algo que seja partilhado. Não acredito que algum realizador vá chegar ao pé de mim e dizer «obviamente que só foste escolhida pelas tuas redes» ”, remata.
“Há atrizes que só entram nas redes quando percebem que dá dinheiro”
Rita Pereira recorda como construiu o seu percurso como atriz e influencer. “Eu fui uma das primeiras atrizes a começar nas redes sociais, quando ainda toda a gente me julgava. Há muitas atrizes que só começaram a entrar nas redes quando perceberam que aquilo dava dinheiro, não foi um complemento à vida delas enquanto atrizes, ou não foi algo que lhes desse prazer”, refere Rita Pereira. E acrescenta: “Hoje em dia acredito que já não basta seres só boa atriz, porque se ninguém te vê, ninguém te chama”. A influencer afirma que, para ela, as redes sociais e o trabalho enquanto atriz estão de mãos dadas. “Sinto-me confortável nos dois, não sou só atriz (…) e também não tenciono ser só atriz porque me sinto muito confortável e porque vejo que ao teres os dois lados uma coisa te direciona para a outra ou uma coisa puxa a outra”, esclarece.
“Se hoje é um influencer que vira ator, antigamente era um manequim que virava ator. O julgamento estará sempre presente (…)”, diz Rita Pereira.
Adianta ainda que “o facto de seres vista, o facto de controlares a tua narrativa, também é muito importante, porque tu mostras a tua essência. O facto de poderes mostrar o teu trabalho nas redes sociais, porque seres atriz hoje em dia não é só teres o palco do teatro, não é só teres as câmaras de TV à tua frente, as redes sociais acabam por ser o teu segundo palco, onde tu podes controlar a tua narrativa, onde podes mostrar o teu trabalho e mostrar a tua essência. Portanto, para mim são duas coisas que irão andar de mãos dadas”.
Quanto a isto, Rita Pereira entende que “também tem a ver com tu saberes agarrar as oportunidades. Eu comecei nos Morangos com Açúcar, tinha feito teatro amador durante cinco anos, não tinha experiência de grandes palcos ou câmaras de televisão, e soube agarrar essa oportunidade e soube continuar o meu caminho e mostrar às pessoas quem era, mostrar que sou trabalhadora. Após cada novela, fui estudar. Fui estudar para os EUA, fui para Espanha, para o Brasil. Eu tive essa oportunidade, eu agarrei essa oportunidade e a partir daí controlei o meu caminho e acho que isso é um grande poder”.
“O facto de poderes mostrar o teu trabalho nas redes sociais, porque seres atriz hoje em dia não é só teres o palco do teatro, não é só teres as câmaras de TV à tua frente, as redes sociais acabam por ser o teu segundo palco, onde tu podes controlar a tua narrativa (…), diz Rita Pereira.
Ana Marta Corrobora, dizendo que o que acontece hoje é que as oportunidades surgem de outras formas, e podem começar pelas redes sociais, enquanto que quando começou a trabalhar como atriz – era ainda muito criança, claro – as oportunidades eram mais “presenciais”.

A propósito desta discussão Sónia Balacó acrescentou que continua a existir este debate no meio em que se movimentam e que tem a ver com a visibilidade e o número de likes e se isso, de facto, se traduz em trabalho ou não como ator. “Acontece muito em produções internacionais, quererem ver quem é a atriz, se a selftape correu bem, «mostrem-me o Instagram», que tipo de presença é que a pessoa tem online, mas também o número de likes. “Também está a acontecer outra coisa que é: influencers que estão a fazer a viagem no sentido de se tornarem atores porque têm esta visibilidade online. Há várias posições em relação a esta questão, como sabemos também há um preconceito tremendo ainda”, refere a atriz que participou na conceituada série da Netflix, Vickings Valhalla.
Sobre este movimento Rita Pereira referiu que “se hoje é um influencer que vira ator, antigamente era um manequim que virava ator. O julgamento estará sempre presente, acima de tudo o que eu costumo defender é que há que saber controlar esse julgamento dentro do nosso sistema emocional. E acrescenta: “ É ótimo ter redes sociais, mas tens de ter um controlo emocional muito grande sobre todo o ódio gratuito que aparece. ‘Eu amava ter os teus seguidores’, ok, mas tens coração para teres os meus seguidores? E não é coração para amar, é coração para controlares o ódio”, desabafa.