A Inteligência Artificial está a transformar o mundo, mas o debate global tem sido dominado por gigantes tecnológicos afastados da realidade das empresas europeias. A Europa está agora a traçar o seu próprio caminho – mais ético, mais transparente e mais humano. Como fundador europeu, acredito que este é o nosso momento para reforçar a soberania tecnológica e definir um modelo de inovação enraizado nos nossos valores. E isso começa por colocar os empreendedores no centro da estratégia para a IA. Se a IA pretende verdadeiramente servir a Europa, tem de funcionar para muitos, não apenas para alguns.

A presidente Ursula von der Leyen apresentou recentemente a ambição europeia de liderar em tecnologias estratégicas como a IA, os semicondutores e a computação quântica. Essa ambição não é apenas necessária – é urgente. E tem de ir além da investigação fundamental ou dos quadros regulatórios. Se queremos liderar, temos de construir. E, para construir, temos de capacitar quem está mais próximo do terreno: os fundadores e pequenos empresários da Europa.

De acordo com a Comissão Europeia, 99,8% das empresas europeias são PMEs. Representam mais de dois terços da força de trabalho no setor privado. E, no entanto, estão praticamente ausentes da discussão sobre a IA. Muitas não têm orçamento para experimentar estas tecnologias. Muitas receiam ficar para trás devido à complexidade regulatória, à falta de infraestruturas de dados ou simplesmente por não saberem por onde começar. Temos de mudar isso.

Uma abordagem verdadeiramente europeia à IA deve ser inclusiva, segura e acessível desde a origem. Precisamos de modelos que priorizem a privacidade desde o início, interfaces intuitivas que não exijam conhecimentos técnicos profundos e sistemas pensados não só para investigadores ou grandes tecnológicas, mas também para fundadores que, todos os dias, procuram automatizar faturas, otimizar operações ou melhorar a logística. É assim que a Europa se mantém competitiva: dando às bases da nossa economia as ferramentas do futuro, desenvolvidas em alinhamento com os valores europeus.

A missão tem que ser a de dar a cada fundador europeu acesso a ferramentas poderosas, seguras e intuitivas, que acelerem o crescimento e reduzam eventuais fricções. A IA tem de fazer parte desse caminho – mas só se construída de forma responsável, transparente e local.

Acredito na inovação global e na colaboração aberta, mas também defendo o desenvolvimento de tecnologia europeia que reflita a nossa visão única de sociedade. Uma visão que valoriza a dignidade, a inclusão, a privacidade e a confiança. Estamos comprometidos em promover o acesso, a propriedade responsável e um futuro onde a IA seja desenvolvida em conformidade com os valores europeus. Se esta tecnologia pretende ser uma verdadeira força do bem no nosso continente, tem de respeitar esses princípios desde o primeiro momento.

Assim, o futuro da IA não se resume à competição tecnológica. Trata-se de resiliência económica, soberania digital e liderança cultural. Está na hora da Europa deixar de assistir da bancada. Está na hora de construir. E isso começa com os empreendedores europeus.

Jon Fath,
cofundador e CEO da Rauva