
A comissária Europeia para os Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos, Maria Luís Albuquerque, disse nesta sexta-feira, em Lisboa, que nos depósitos a prazo “é seguro que se perde dinheiro”. Estas declarações da ex-ministra das Finanças surgem precisamente no dia em que o Banco de Portugal deu a conhecer a mais recente atualização sobre os depósitos dos portugueses, que, apesar de serem mais do que há um ano, apresentam uma desaceleração contínua há seis meses.
“Nós habituámo-nos a pensar que os depósitos bancários são seguros e não têm risco, eu diria que, neste momento, é seguro que se perde dinheiro, porque a rentabilidade real é negativa”, lamentou a comissária. A tendência de desaceleração dos depósitos, justifica o banco central, prende-se com a remuneração dos mesmos e com o maior investimento das famílias em Certificados de Aforro, que apresentam, de momento, taxas de juro mais atrativas.
Em abril, o ‘stock’ de depósitos de particulares nos bancos residentes ascendeu a 193,1 mil milhões de euros, mais 506 milhões do que no mês anterior e 5,7% a mais do que em abril de 2024. Contudo, este aumento está abaixo da variação registada em março, de 5,9%, o que representa uma tendência abrandamento, começada em novembro passado. Apesar da tendência decrescente, os portugueses mantêm-se acima da Zona Euro.
Do lado das empresas, esta desaceleração também se verifica, ainda que há menos tempo. O ‘stock’ de depósitos das entidades empresariais junto das instituições de crédito era de 70,2 mil milhões no final de abril, mais 637 milhões face a março de 2025. Em comparação com o período homólogo, este valor está 7,6% acima. Contudo, o crescimento em março foi superior, fixando-se em 8,1%. Também esta variação ficou acima da média dos pares do euro.
Incerteza do mercado de capitais supera segurança dos depósitos
“No mercado de capitais temos o risco de perda, nos depósitos temos uma certeza de perda nos últimos anos”, acrescentou. A responsável europeia falava na conferência anual da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), sob o tema “Uma Nova Ambição para os Mercados de Capitais”, em Lisboa.
Maria Luís Albuquerque falou sobre a iniciativa europeia da União da Poupança e Investimentos (SIU) e referiu que um dos propósitos é “capacitar os cidadãos europeus para gerirem as suas finanças de forma informada e eficaz, com retornos adequados, promovendo a literacia financeira e incentivando a poupança de longo prazo”.
Para além disso, a comissária considera ainda que a iniciativa é um “pilar de investimento e financiamento” que permite canalizar poupanças privadas para investimentos produtivos de forma a contribuir para o financiamento da economia em setores estratégicos.
“O objetivo da estratégia é fazer com que seja mais fácil que os recursos fluam para onde há boas oportunidades de negócio”, acrescentou. A responsável europeia ressalvou ainda a necessidade de “reduzir a fragmentação dos mercados financeiros europeus” e promover “um verdadeiro mercado comum de serviços financeiros que seja mais eficiente e competitivo”.
“E, naturalmente, uma supervisão eficaz do mercado financeiro comum, através de uma supervisão mais harmonizada e previsível, que garanta a estabilidade e confiança e que assegure decisões uniformes aos agentes económicos”, asseverou.
LAA com Agência Lusa