
Uma mala de 40 anos que inspirou a linha de malas de maior prestígio do mundo foi vendida num leilão da Sotheby’s em Paris na manhã desta quinta-feira por € 8.6 milhões (US $ 10.1 milhões) após taxas para um licitante japonês não identificado após mais de 10 minutos de lances intensos por nove compradores em potencial, disputando a primeira bolsa Hermès Birkin já feita.
A sala de leilões de Paris fervilhava de expectativa à medida que a venda começava, com o leiloeiro a lembrar à multidão que a mala era “totalmente única” e “a mala mais famosa de todos os tempos”.
O protótipo da Birkin, que foi criado especificamente para a atriz e ícone do estilo francês Jane Birkin (1946-2023), inspirou uma linha de malas Hermès que são notoriamente caras – normalmente são revendidas por dezenas de milhares de euros – e difíceis de adquirir.
A licitação começou em 1 milhão de euros, mas rapidamente aumentou, com os licitadores telefónicos a lutarem no final e o preço total para o licitador vencedor do Japão a ficar nos referidos 8,6 milhões de euros, segundo a casa de leilões.
A mala é a bolsa mais cara já vendida em leilão, custando ao comprador 7 milhões de euros (US $ 8,2 milhões) antes das taxas, batendo uma Hermès Kelly 28 (mais especificamente, uma Hermès White Himalaya Niloticus Crocodile Diamond Retourne Kelly 28) que arrecadou US $ 513.040 em novembro de 2021. A bolsa foi vendida a um colecionador privado não identificado do Japão, de acordo com o The Wall Street Journal.
A oferta vencedora de 7 milhões de euros arrancou suspiros e aplausos da audiência.
A Birkin é agora o segundo item de moda mais valioso já vendido em leilão, depois de um par de chinelos vermelhos rubi (Ruby Red) de “O Feiticeiro de Oz”, que foi vendido por US $ 32,5 milhões em 2024.
A mala original, que inclui uma alça não removível e está estampada com as iniciais de Jane Birkin, difere das malas produzidas mais tarde com o seu nome de várias formas: é um tamanho único entre os tamanhos 40 e 35 feitos mais tarde para a linha Hermès, tem ferragens em latão dourado em vez das ferragens banhadas a ouro utilizadas quando a bolsa foi oficialmente lançada e tem tachas inferiores, ou “pés”, visivelmente mais pequenos do que os utilizados nas bolsas Birkin de produção.
A mala também está visivelmente desgastada pelo uso: Jane Birkin (que nasceu em Londres e faleceu em Paris) era conhecida por tratar a bolsa como qualquer outra, em vez de a manter em condições imaculadas como muitos colecionadores fazem hoje em dia, e era famosa por personalizar a sua bolsa com acessórios e autocolantes que ela sabia que seriam fotografados, servindo, desse modo, para promoverem causas que lhe eram queridas.
Na realidade, para além de cantora e atriz, esta figura popular que nasceu no Reino Unido, cujo estilo pessoal ajudou a definir o estilo parisiense, era uma voz em defesa dos direitos das crianças, através da Unicef, das mulheres e LGBT.

Jane Birkin com a sua mala original
Esta mala em particular já foi vendida duas vezes por valores não revelados: Birkin doou-a a um leilão que beneficiou a Association Solidarité SIDA, uma instituição de caridade francesa contra a SIDA, em 1994, e foi novamente vendida em leilão em 2000 à colecionadora parisiense Catherine Benier, que a possui desde então.
A história da mala
A casa de moda parisiense Hermès encomendou a bolsa exclusivamente para Birkin, em 1984, marcando-a com as suas iniciais J.B. na aba da frente, por baixo do fecho – e entregou-lhe a bolsa única no ano seguinte, segundo a Sotheby’s. A versão comercializada subsequente da bolsa de Birkin tornou-se num dos artigos de luxo mais exclusivos do mundo, com um preço extravagante e uma lista de espera que durava anos.
A bolsa nasceu de um encontro fortuito, num voo para Londres, nos anos 80, com o então diretor da Hermès, Jean-Louis Dumas. Birkin contou em entrevistas posteriores que os dois começaram a falar depois de ela ter deixado cair alguns dos seus pertences no chão da cabine, os quais transportava na sua mala Kelly. Durante essa viagem de avião, Jane comentou que a sua bolsa era pequena, pois se fosse maior as suas coisas não teriam caído. Birkin perguntou a Dumas porque é que a Hermès não fazia uma mala de mão maior e desenhou num saco de vómito de avião o tipo de mala que ela gostaria de ter. Ele mandou então fazer um exemplar para ela e, lisonjeada, a cantora concordou quando a Hermès lhe perguntou se podia comercializar a mala com o seu nome. Assim ficou a Birkin bag, com as dimensões de 36 cm de comprimento x 21 cm de profundidade x 27 cm de altura (com pegas: 42 cm).
“Não há dúvida de que a mala Original Birkin é verdadeiramente única – uma peça singular da história da moda que se tornou num fenómeno da cultura pop que assinala o luxo da forma mais refinada possível. É incrível pensar que uma mala inicialmente concebida pela Hermès como um acessório prático para Jane Birkin se tenha tornado na mala mais desejada da história”, afirmou Morgane Halimi, diretora de malas e moda da Sotheby’s.
A bolsa tornou-se tão famosa que, antes de morrer, em 2023, aos 76 anos, Birkin chegou a pensar que os seus obituários iriam provavelmente “dizer: ‘Como a bolsa’ ou algo do género”.
com Mary Whitfill Roeloffs/Forbes Internacional e Lusa