Esta eleição presidencial, inicialmente prevista para 2025, foi organizada em poucas semanas para substituir o Presidente Ebrahim Raissi, que morreu num acidente de helicóptero a 19 de maio.

O ato eleitoral realiza-se num contexto delicado para a República Islâmica, que tem de gerir simultaneamente tensões internas e crises geopolíticas, da guerra na Faixa de Gaza à questão nuclear, a cinco meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, seu inimigo declarado.

A campanha, que começou de forma desapaixonada, foi mais competitiva do que a anterior, em 2021, graças à presença do reformista Massoud Pezeshkian, que se impôs como um dos três favoritos.

Os seus dois principais adversários são o conservador presidente do Parlamento, Mohammad-Bagher Ghalibaf, e Saïd Jalili, o ultraconservador ex-negociador nuclear.

Esta proximidade de destaque poderá levar a uma segunda volta, o que só aconteceu numa eleição presidencial, em 2005, desde o início da República Islâmica, há 45 anos.

Para ter hipóteses de ganhar, Massoud Pezeshkian deve esperar uma elevada taxa de participação, ao contrário da eleição presidencial de 2021, que foi marcada por uma abstenção recorde de 51% quando nenhum candidato reformista ou moderado foi autorizado a concorrer.

Na terça-feira, o líder supremo, ayatollah Ali Khamenei, apelou aos iranianos para que "compareçam em grande número", receando a mais que provável baixa taxa de participação, tendo como pano de fundo os 41% registados nas legislativas de março passado.

Para Ali Vaez, especialista sobre questões ligadas ao Irão do International Crisis Group (ICG), o futuro Presidente terá de enfrentar "o desafio de evitar alargar o fosso entre o Estado e a sociedade". Até à data, nenhum dos candidatos "apresentou um plano concreto para resolver estes problemas", considera.

O reformista Pezeshkian, de 69 anos, viúvo e pai de família, garantiu aos eleitores que era possível "melhorar" alguns dos problemas com que se defrontam os 85 milhões de habitantes do Irão.

No entanto, aos olhos de alguns eleitores, este médico que se tornou deputado carece de experiência governativa, tendo sido apenas Ministro da Saúde há cerca de 20 anos.

Em contrapartida, Mohammad-Bagher Ghalibaf é, aos 62 anos, um veterano da política, depois de ter feito carreira na Guarda Revolucionária, o poderoso exército ideológico da República Islâmica.

Por seu lado, Saïd Jalili, 58 anos, que perdeu uma perna durante a guerra Irão-Iraque, nos anos 80, atrai os apoiantes mais fervorosos da República Islâmica, apoiando a firmeza inflexível de Teerão face aos países ocidentais.

No outro extremo do espetro, Massoud Pezeshkian defende uma aproximação nas relações com os Estados Unidos e com a Europa, a fim de levantar as sanções que afetam duramente a economia, e recebeu o apoio do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Javad Zarif, o arquiteto do acordo nuclear alcançado com as grandes potências em 2015.

O reformista apela também a uma solução para a questão persistente do véu obrigatório para as mulheres, uma das causas do vasto movimento de protesto que abalou o país no final de 2022, após a morte de Mahsa Amini, que foi presa por não respeitar o código de vestuário.

"Durante 40 anos, tentámos controlar o hijab, mas só piorámos a situação", lamentou Pezeshkian.

A maioria dos outros candidatos adotou uma posição cautelosa em relação a esta questão, declarando-se bastante contrários à implantação da polícia da moralidade.

Uma das certezas da eleição é que o próximo presidente será um civil e não um clérigo xiita, como os dois presidentes anteriores, Hassan Rohani e Ebrahim Raissi.

Não pode, portanto, ser considerado como um potencial sucessor do ayatollah Khamenei, que tem 85 anos e está à frente do Irão há 35.

JSD // APN

Lusa/Fim