O dstgroup é conhecido, sobretudo pela atividade na construção e engenharia, mas cedo apostou em promover a cultura nas suas diversas formas em Portugal, mas também nas geografias onde está presente. Através da visão e empenho do presidente do conselho de administração, José Teixeira, o grupo português definiu a assinatura de marca “building culture” através do qual quer ser reconhecido como um dos principais players no mercado cultural português. Um dos exemplos dessa aposta é o Prémio de Literatura dstangola/Camões – criado em 2019 pelo grupo liderado por José Teixeira em parceria com o Instituto Camões – que tem agora no terreno e até 31 de agosto a VII edição, este ano dedicada à poesia. Desde a criação do prémio, nomes como Pepetela, João Melo, Boaventura Cardoso e Jorge Arrimar já forma distinguidos, sendo que tem contribuído para dar visibilidade à literatura angolana. A distinção atribui um prémio de 15 mil euros e destina-se a obras publicadas em língua portuguesa, nos anos de 2023 e 2024, por autores angolanos residentes ou não residentes.

Em entrevista à Forbes Portugal, o presidente do dstgroup, explica a motivação que o leva a investir na cultura e na literatura. De acordo com o empresário, em Angola ou em Portugal ou numa qualquer geografia a literatura é o caminho mais curto e mais rápido para a liberdade. “Sem literatura, o conhecimento fica banido ou fica restringido à tabuada da vida”, sublinha José Teixeira.

Qual é a motivação estratégica do dstgroup em investir na cultura e na literatura, sobretudo, em Angola?

Em Angola ou em Portugal ou numa qualquer geografia a literatura é o caminho mais curto e mais rápido para a liberdade. Sem literatura, o conhecimento fica banido ou fica restringido à tabuada da vida. Estamos de acordo com Vítor Hugo na importância do conhecimento: a privação do conhecimento é mais danosa para a humanidade do que a miséria. A partir da literatura e da poesia, “tudo pode ser outra coisa”. Podemos sentir e ver o que não era visível. Há, na literatura e nos livros de literatura, personagens e ambientes sociais e psicológicos que a vida real não mostra. A vida real embaraça os sonhos, tolhe a esperança e limita os desejos a coisas comercializáveis. Na literatura, tudo é possível. Na leitura de um romance ou de um poema, cada leitor constrói o personagem em cima do personagem do autor e vê a paisagem descrita com os olhos de quem vê a partir dos seus olhos únicos e intransmissíveis. Precisamos da literatura no nosso trabalho porque precisamos de chegar ao umbral do impossível. Precisamos de poesia porque sabemos que o nada não existe, e há sempre uma outra possibilidade de começar do nada, de começar de novo, de tentar de novo, para passar o cabo que nos negou a passagem.

Mesmo no dia a dia de trabalho?

Precisamos de poesia porque há coisas que só os poetas entendem, e nós não queremos as coisas sem ser por inteiro. Precisamos de literatura para chegar a todos os personagens, a todos os trabalhadores que vivem connosco no labor diário. Precisamos de literatura para comunicar com os nossos clientes de forma genuína e limpa. Precisamos de compreensão e de entendimento e, sem literatura, a necessidade fica num vazio fundo, sem luz e angustiante. Precisamos de literatura porque gostamos de abraços abraçados que se dão e se tiram nos livros. Precisamos de literatura e de poesia para perdermos o medo. Precisamos dos abraços dos livros para não ficarmos sós. Precisamos de literatura para promover a leitura, através da leitura o conhecimento e, através do conhecimento, a liberdade. Precisamos de livros, de poesia e de literatura porque precisamos de respirar sem mecanismos auxiliares com instruções de como devemos pensar. Precisamos de metáforas e de parábolas para simplificar a compreensão. Precisamos de literatura para termos a certeza de que somos os proprietários do que pensamos.

De que forma o Prémio de Literatura se integra na visão global de responsabilidade social e mecenato do dstgroup?

A nossa assinatura de marca – building culture – define a nossa cultura organizacional e o nosso posicionamento estratégico. Porque a cultura não é a redutora expressão de um povo, de uma forma de estar e de ser. A cultura é esse povo, a cultura é identidade, a cultura é constante construção. Não é fácil definir uma alma nem ouvir o que fala o nosso coração, mas, neste grupo, somos o que fazemos: uma cultura de construção que constrói cultura. Desenvolvemos, por isso, esta forte ligação e promoção das artes e da cultura, pois acreditamos que é aí que reside a nossa proposta de valor, a fórmula da nossa competitividade. Defendemos que a economia deve cada vez mais falar de cultura, pois a cultura é a base fundamental da criatividade e da imaginação, imprescindíveis para a produtividade e competitividade de qualquer setor. Isto aplica-se a Portugal e também a Angola, claro, uma vez que temos a nossa empresa dstangola sediada em Luanda há alguns anos.

O que lhe confere mais importância…

É por isso que, desde sempre, lhe atribuímos esta importância maior, e para além da nossa ação interna com os nossos trabalhadores, também deixamos a nossa marca na comunidade em que nos inserimos. Somos, por isso, um mecenas cultural por excelência, sendo o apoio à Cultura e à Arte parte indissociável do nosso código genético. Destacamos, neste âmbito, a promoção do “Grande Prémio de Literatura dst”, de âmbito nacional, há já 30 anos, e do “Prémio de Literatura dstangola/Camões”, para o território angolano, desde 2019. Iniciativas que se juntam a tantas outras de apoio e de incentivo à arte, à cultura e à responsabilidade social no seio do grupo e da comunidade que nos rodeia. Mais do que premiar livros, o Prémio de Literatura dstangola/Camões projeta autores, valoriza a língua portuguesa e afirma a importância da cultura como pilar de identidade nacional. O prémio é, assim, um símbolo do nosso compromisso cultural em Angola, que já conta com sete edições.

Essa aposta não se fica pelo Prémio…

Mas exemplo deste compromisso é, também, a sala de leitura dstangola, criada no Centro Cultural Português em Luanda, equipada com milhares de livros que oferecemos, num investimento continuado que ultrapassa os 30 mil euros. No ano passado, apoiamos, ainda, a edição do livro “História de Angola: da Pré-História ao início do Séc. XXI” de Alberto Oliveira Pinto. Interessa-nos a história. Interessa-nos o passado, o passado não passa. A educação, nomeadamente a dos primeiros ciclos, tem de incluir história. A história de Angola é riquíssima e há muita Angola antes dos portugueses lá terem chegado. Ajudamos com esta edição a que a História de Angola chegue às escolas de Angola porque nesta História de Angola mostra-se Angola completa. Na qualidade de mecenas exclusivo deste livro, recebemos 325 exemplares da tiragem da obra para Portugal, dos quais, 225 foram doados à Rede Nacional de Bibliotecas Públicas Portuguesas e 690 exemplares da tiragem da obra em Angola, que foram doados, na totalidade, ao Ministério da Cultura de Angola.

Como mede o impacto cultural e reputacional deste prémio no posicionamento do dstgroup em Angola e nos PALOP?

Desde 2019, que o nosso Prémio de Literatura dstangola/Camões se tem afirmado como uma iniciativa cultural de grande relevância em Angola. O impacto cultural é medido, antes de mais, pela crescente participação de escritores, que tem aumentado, de ano para ano, mas também pela qualidade das obras submetidas e, acima de tudo, pela visibilidade e reconhecimento público que o prémio tem dado à literatura angolana contemporânea. Através deste prémio e das iniciativas referidas anteriormente, conseguimos, assim, afirmar-nos como um agente ativo no desenvolvimento cultural e na valorização da lusofonia, reforçando o nosso compromisso com a responsabilidade social e com a promoção da cultura e da literatura angolas.

Por que razão foi escolhida a poesia como foco da edição de 2025?

O prémio funciona com um carácter rotativo, premiando num ano obras de prosa e, no seguinte, obras de poesia, publicadas no biénio anterior. Tendo em conta que a sexta edição foi dedicada a obras de prosa, publicadas em 2022 e 2023, esta sétima edição é dedicada a obras de poesia, publicadas em 2023 e 2024. O objetivo é conseguirmos dar destaque a ambas as tipologias literárias.

O dstgroup tem algum envolvimento no processo de seleção ou este está totalmente entregue ao júri independente?

O processo de avaliação de todos os candidatos e seleção da obra vencedora está exclusivamente a cargo de um júri independente e de referência composto por José Mena Abrantes (presidente), Amélia da Lomba e David Capelenguela. Não temos qualquer envolvimento no processo.

Há planos para ampliar o prémio, por exemplo, com novas categorias literárias ou autores lusófonos de outros países?

Neste momento, não estão previstas alterações à génese do prémio que se destina apenas a premiar obras de prosa e poesia, publicadas em língua portuguesa, por autores angolanos residentes ou não residentes.

O prémio atribui 15 mil euros e já investiu mais de 30 mil euros na sala de leitura. Há outros projetos culturais em Angola em curso ou previstos?

Vamos receber a Companhia de Dança Contemporânea de Angola e isso é uma forma de apoiar a cultura que se faz em Angola.

Como é feita a seleção de projetos culturais a apoiar? Existem parcerias com outras entidades para ampliar o alcance?

O nosso propósito em apoiar projetos culturais prende-se com a nossa ambição de democratizar o acesso à cultura, às artes e à literatura. O nosso objetivo é contribuir para a literacia das artes pois só assim conseguimos construir uma sociedade mais justa e competitiva. Por isso, todos os projetos que apoiamos estão alinhados com esta proposta de valor. Relativamente a parcerias com outras entidades, depende de cada projeto, o Prémio de Literatura dstangola/Camões é promovido em parceria com o Instituto Camões, por exemplo.

O dstgroup tem intenção de criar projetos semelhantes em outras geografias onde atua?

É uma possibilidade em aberto. Estamos sempre atentos a novos projetos e novos desafios.

Quais são as perspetivas para a continuidade e evolução do Prémio de Literatura dstangola/Camões nos próximos anos?

As perspetivas são as melhores. A cada ano, a cada edição, o número de candidaturas tem aumentado, o que revela uma consolidação da notoriedade do prémio em Angola. Acreditamos que são cada vez mais os autores angolanos atentos ao nosso prémio e a valorizar a sua candidatura, uma vez que contamos com um júri que muito o prestigia e honra, para além das obras e dos autores de excelência que têm sido distinguidos.

Que papel acredita que a cultura deve desempenhar no desenvolvimento sustentável de Angola? E que papel quer o dstgroup assumir nesse processo?

Acreditamos que a cultura é um dos pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável, mas também da construção de uma sociedade mais justa e competitiva, fundada nos valores do bem, do belo e da verdade. A cultura é a alma de um povo – é nela que vive a sua memória, a sua esperança e a sua capacidade de sonhar. Em Angola, onde cada gesto, cada palavra e cada expressão artística carrega séculos de história e de resistência, acreditamos que a cultura deve ser uma força vital de transformação, capaz de unir comunidades, inspirar gerações e construir caminhos de dignidade e liberdade. Assim, assumimo-nos como um agente de transformação com um papel ativo no apoio a projetos que contribuem para o fortalecimento das expressões culturais locais, para a inclusão social e para a criação de oportunidades nas comunidades. Ao promovermos iniciativas como o Prémio de Literatura dstangola/Camões, queremos contribuir para a consolidação de um ecossistema cultural dinâmico, que valorize o talento angolano e que tenha um impacto real e duradouro na sociedade, porque acreditamos que um país que investe na sua arte e cultura, investe também na dignidade, na liberdade e no futuro do seu povo.