Num mundo em rápida transformação, África assume hoje um lugar central no mapa da inovação global. O continente acolhe alguns dos ecossistemas tecnológicos mais dinâmicos e resilientes do planeta, com hubs como Lagos, Nairobi, Casablanca ou a Cidade do Cabo a gerar soluções de alto impacto – muitas vezes em contextos de escassez que exigem engenho, agilidade e profundo conhecimento local.

Ao mesmo tempo, assistimos a um renovado interesse europeu por programas colaborativos com África, impulsionados por uma visão de inovação orientada para o impacto. Incubadoras cruzadas, redes de aceleração e programas de investimento de impacto multiplicam-se todos os anos, aproximando talentos e capital de ambos os continentes.

Mas este momento exige mais do que entusiasmo ou investimento. Exigehumildade estratégica.

A inovação com impacto não pode ser exportada em modelo “copy-paste”, nem imposta sob premissas externas. Precisa de serco-criada com as comunidades locais, respeitando contextos, realidades e ambições. Só assim o capital – por mais “inteligente” que se afirme – poderá verdadeiramente gerar valor duradouro. Porque sem o conhecimento local, o capital arrisca a ser cego; e sem o capital, o conhecimento local arrisca a ficar refém da sua própria escala.

É aqui que Europa e África têm uma oportunidade única:reposicionar-se não como polos opostos de desenvolvimento, mas comoco-autores de um novo paradigma de inovação partilhada/colaborativa, onde se valorizam complementaridades – tecnológicas, culturais e humanas.

No EurAfricanForum 2025, este é o ponto de partida para uma nova conversa: não sobre o que a Europa pode “levar” para África, massobre o que podemos criar juntos.

Ricardo Marvão,
Co-founder, Beta-i e membro do Conselho da Diáspora Portuguesa