
"Em primeiro lugar, parece-me inconcebível que o presidente da Câmara seja avisado, na noite anterior, às oito da noite, que há um plenário, portanto não é uma greve, há um plenário que vai parar toda a circulação do metro", disse Carlos Moedas em declarações à Lusa.
O Metropolitano de Lisboa anunciou na quarta-feira que vai suspender a circulação e encerrar todas as estações a partir das 20:00 de hoje devido ao plenário dos trabalhadores, considerando a iniciativa dos sindicatos -- marcada das 21:15 às 02:30 de sexta-feira - "inédita e inusitada".
O autarca frisou que saber 24 horas antes da realização do plenário não possibilita "haver serviços mínimos", já que não é uma greve e vai prejudicar os lisboetas "na noite mais importante da cidade", véspera de Santo António.
Carlos Moedas referiu que teve de "pensar rapidamente em alternativas" e, além da Carris, contactou a Carris Metropolitana, que opera na Área Metropolitana de Lisboa, para que "possam ajudar".
"Tomei a decisão esta manhã de pedir à Carris que, a partir das seis da tarde [...], os autocarros sejam gratuitos durante toda a noite e, portanto, dar essa gratuidade para que as pessoas possam apanhar os autocarros", explicou.
Carlos Moedas lembrou que a operador de transporte da cidade de Lisboa "está em greve" de 24 horas, terminando à meia-noite, mas apesar disso a "operação está a trabalhar", com "mais ou menos 15% dos trabalhadores a aderir" ao protesto e "na tripulação estão cerca de 40%.
"Portanto, a Carris está a funcionar e, dentro da Carris, vamos dar essa gratuidade. Vamos estar em contacto e à espera desta resposta da Área Metropolitana, porque é muito importante, e pedir paciência às pessoas, porque este é o dia mais importante para Lisboa e, pela primeira vez, há uma decisão de um plenário nesta noite", acrescentou.
Numa nota entretanto divulgada pela Câmara de Lisboa, o município refere que "a utilização dos autocarros da Carris será gratuita a partir das 18:00 horas e até as 08:00 da manhã da próxima sexta-feira".
Carlos Moedas sublinhou que o plenário "poderia ter sido feito amanhã [sexta-feira] ou depois de amanhã [sábado]", considerando que fazê-lo hoje tem "motivações políticas muito claras".
"Penso que os lisboetas não esquecerão que, na noite mais importante da nossa cidade, houve a decisão de uma empresa do Estado, neste caso não municipal, de ter uma reunião plenária para parar no fundo da cidade", insistiu, reiterando estar a reagir e a tentar encontrar soluções.
Contudo, acrescentou, foram "poucas horas para encontrar soluções" que poderiam ter sido "pensadas de outra maneira", não tendo havido "respeito institucional pelo presidente da Câmara", que podia ter sido avisado há uma semana de que haveria uma reunião plenária hoje.
Carlos Moedas frisou também que sempre respeitará o direito à greve, "um direito constitucional", mas que o caso hoje é que há "um plenário que poderia ter sido feito num outro dia".
"Isto não faz qualquer sentido e sobretudo num dia tão importante para Lisboa. São os lisboetas que estão a ser prejudicados por decisões e motivações políticas [e] estamos a prejudicar toda uma cidade. Acho que é inaceitável. Isto ultrapassa tudo", lamentou.
Apesar do apelo do Metropolitano de Lisboa para o reagendamento do plenário de hoje devido ao impacto no serviço em noite de Santos Populares, os trabalhadores vão manter a realização do plenário a partir das 20:00, disse à Lusa fonte sindical.
Em comunicado, a empresa destacou que a convocatória das organizações sindicais para o plenário apela "expressamente à participação de todos os trabalhadores, não considerando a necessidade de assegurar serviços de natureza urgente e essencial", devido às festas dos Santos Populares de Lisboa.
Contactada pela Lusa, Sara Gligó, da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), disse que o plenário vai ser mantido e refutou declarações da empresa.
"Não é uma ideia inédita nem inusitada. Fazemos muitas vezes plenários à noite e, quanto ao facto de dizerem que nesta altura não existe matéria de negociação que leve a esta questão, lembro que há um conjunto de 14 questões que, a serem acatadas, teriam desbloqueado este plenário", disse.
A sindicalista lembrou que em dezembro o sindicato levantou uma greve ao trabalho suplementar e eventos especiais devido a um acordo que a empresa não cumpriu na totalidade.
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