É do conhecimento de todos, e penso que é unânime, que o plantel do Benfica está muito bem apetrechado, sendo talvez aquele que mais qualidade e soluções tem em Portugal.

No entanto, defendo sempre que a qualidade e a quantidade de soluções que dão garantias a um treinador nunca são demais. Apesar de perceber que não é lógico ter um plantel com 25 ou 26 jogadores que detenham todos o estatuto e a qualidade inegável para serem titulares, há que pensar primeiro num leque de jogadores que sejam opções lógicas para jogarem maior parte dos jogos. Após esta questão, é altura de desenhar aquilo que são as chamadas segundas linhas.

Ora, num contexto de uma equipa como o Benfica, a exigência é e tem de ser a palavra de ordem em todos os jogos e em todos os contextos que a equipa vive. Por isso, os seus intérpretes têm de ter uma qualidade condizente com aquilo que é a realidade encarnada. Isto, para além de todo um espírito de sacrifício e de superação que lhes permita reconhecer a grandeza de uma equipa como o Benfica.

Tenho ouvido e lido muita coisa, é verdade, mas realmente olhei para o plantel do Benfica e reconheci algumas debilidades e alguns desenhos “mal feitos” na tal estratégia que foi montada no início da temporada. No entanto, o mercado de janeiro serve precisamente para realizar estes tais ajustes, sempre tão necessários numa equipa profissional de futebol.

Em primeiro lugar, antes de atacar o mercado, o Benfica deveria pensar sim em reorganizar o seu plantel, em tentar colocar alguns nomes que podem estar de fora do baralho, em outros clubes e contextos que lhes permitam serem felizes.

O primeiro a confirmar a sua saída do Benfica foi Kaboré, que, entretanto, reforçou o plantel dos alemães do Werder Bremen. Porém, na minha opinião, existem outros jogadores que deveriam abandonar a equipa encarnada, não só porque não fazem parte do desenho tático e da estrutura atualmente montada por Bruno Lage, mas também porque podem, sim, procurar o contexto ideal para as suas carreiras noutras paragens.

Começando pela baliza, e numa altura em que só se fala de Ricardo Velho em Portugal, coisa que, aliás entendo na perfeição, é necessário pensar estrategicamente nesta posição. Trubin é dono e senhor do lugar, e não me parece que seja do interesse da estrutura encarnada trazer alguém que possa “ameaçar” o guardião ucraniano de forma direta, não só pelo alto investimento financeiro em si realizado, mas também pela expetativa desportiva que existe à sua volta.

Samuel Soares é nesta altura a alternativa da baliza do Benfica, e um empréstimo seria o cenário ideal para a carreira do jovem guarda-redes português. O Benfica deveria contratar, a meu ver, um guarda-redes experiente, talvez até já numa fase mais avançada da sua carreira, que pudesse, sim, dar a tal competitividade que esta posição carece. Como alternativa, poderia avançar para um nome como Ricardo Velho, assumindo que a rotatividade na posição pudesse existir, até porque Velho tem qualidade para assumir a baliza encarnada, mas nesta fase da carreira precisa de jogar, e tem de jogar até pelo seu momento de forma.

Acredito que Trubin também está acomodado, porque sabe que a concorrência atual não é a ideal. Por isso, a minha opinião vai um pouco contra a estratégia da estrutura encarnada, porque se eu fosse dirigente, iria ao mercado contratar um concorrente direto e não um guarda-redes para jogar um par de jogos. O Benfica, para além de ser um gigante do futebol mundial, luta atualmente pelo Campeonato Nacional, Taça de Portugal e Liga dos Campeões; por isso, necessita de uma alternativa credível que lhe permita rodar na posição quando assim for necessário.

Ir ao mercado para a posição mais recuada do campo é, portanto, imprescindível na Luz e é, a meu ver, talvez uma das necessidades mais urgentes, podendo o Benfica, na perspetiva de elevar o nível competitivo da posição, ponderar avançar para nomes como Álvaro Valles, que teve uma prestação excecional ao serviço do Las Palmas na temporada passada, mas que esta época foi afastado do plantel dos “canários” devido à sua situação contratual. Desta forma, um acordo não deveria ser problema para o Benfica.

As águias podiam até orquestrar um “ataque” a Stefano Turati, guardião italiano emprestado pelo Sassuolo ao Monza, e que leva 17 jogos disputados até ao momento na Serie A italiana. Sendo ainda uma jovem promessa de 23 anos, mas que termina contrato no final da presente temporada, justifica uma abordagem imediata por parte dos encarnados.

Depois da baliza, e resolvida a questão de Kaboré, o Benfica precisa de ir ao mercado assertivamente para reforçar a lateral direita da sua defesa, com um jogador que meta Alexander Bah “em sentido”.

Assim sendo, o Benfica tem de ser ambicioso no reforço desta posição e, na minha opinião, deve pensar em apenas dois nomes, sugeridos por especificidades diferentes.

Em primeiro lugar Pedro Malheiro, não só por ser um profundo conhecedor daquilo que é a realidade do campeonato português e do Benfica, mas também pelas suas características enquanto jogador. É um lateral agressivo no bom sentido, procurando sempre incursões na frente atacante sem nunca descurar as suas tarefas defensivas, ele que é titular indiscutível da formação do Trabzonspor, mas que acabou de dar uma entrevista recente onde fala precisamente daquele que era o seu desejo em reforçar os encarnados.

Numa altura em que esta posição tem tido alguma rotatividade entre Bah e Tomás Araújo, um jogador como Pedro Malheiro, que vem em grande plano no capítulo da competitividade, seria uma grande adição. Ainda nesta posição, e manifestando mais uma vez a minha opinião relativamente à abordagem que os encarnados devem ter, a ambição tem de ser grande. Por isso, e para além de Pedro Malheiro, deixava ainda o nome de Devyne Rensch, lateral direito que joga atualmente no Ajax, mas que termina contrato no final da temporada.

Esta questão contratual representa assim uma grande oportunidade de mercado para os encarnados, que iriam contratar um dos grandes valores de futuro dos Países Baixos, por uma verba manifestamente menor do que aquela que poderia representar no futuro. Porém, o Benfica sabe que tem a forte concorrência da Roma neste dossiê, mas olhando para aquela que tem sido a competência da estrutura encarnada no ataque ao mercado, faz-me acreditar que este negócio teria pernas para andar.

Na zona central da defesa, não me parece que sejam necessárias mexidas de qualquer natureza, apenas se se efetivar alguma saída, no caso de Otamendi ou António Silva, ainda que acredite que o Benfica vai manter a sua espinha dorsal defensiva, pelo menos até final da temporada.

Por isso resta-me falar das restantes posições onde vejo necessidade de atacar o mercado, as posições de médio defensivo e de ponta de lança.

Começando pela posição mais recuada do meio-campo, já se percebeu perfeitamente que a equipa do Benfica é bem mais sólida com Florentino em campo. No entanto, não há neste momento no plantel encarnado um jogador que consiga dar esta estabilidade defensiva tão necessária para uma equipa que pretende atingir outros patamares competitivos, e ganhar títulos importantes.

Apesar de existirem soluções no plantel atual às ordens de Bruno Lage, os perfis são de todo diferentes do de Florentino, assumindo que Leandro Barreiro foi contratado para aquela posição e simplesmente não dá todas as garantias, podendo assumir-se numa posição mais adiantada, onde estão Renato e Aursnes, libertando por fim Kokcu para a posição onde, na minha perspetiva, rende mais, que é atrás do avançado, como um pleno número 10 clássico, um jogador de último passe.

Por isso, e neste 4-3-3 de Lage, o Benfica tem obrigatoriamente de jogador com um médio de contenção, um médio clássico e um médio com mais chegada à área contrária. Ora, como médio mais defensivo, existe apenas Florentino, portanto acredito que seria uma boa oportunidade para o Benfica tentar avançar para a contratação de um jogador como Volodymyr Brazhko. O jogador do Dínamo de Kiev, apesar de poder justificar um investimento alto no seu passe, revela características muito interessantes, sendo um jogador diferente de Florentino, mais talvez à imagem de Matic, por exemplo, oferece mais alguma coisa na saída com bola e no capítulo da construção.

Outra opção é Arthur Piedfort, jovem que atua no Westerlo. O médio do clube belga soma até ao momento 20 jogos disputados, sendo uma peça chave da sua equipa com apenas 19 anos, e pode oferecer a mesma segurança defensiva de “Tino”, acrescentando ainda o facto de ter uma enorme margem de progressão.

Para terminar este artigo, que já vai longo, falava ainda na questão do ponta de lança, não antes de falar nas faixas atacantes dos encarnados. Isto porque se formos contar, temos atualmente ao serviço de Bruno Lage vários jogadores para apenas duas posições: ao titularíssimo Di Maria juntamos nomes como Prestianni, Akturkoglu, Tiago Gouveia, Schelderup e até Amdouni. Na minha opinião, Rollheiser é mais uma alternativa a Kokcu no centro do terreno do que um extremo.

São muitas opções para apenas duas posições, no entanto, acredito que faz falta ao Benfica um jogador que possa fazer as vezes de Di Maria quando o argentino não está. É preciso um jogador que venha “para dentro” com a mesma assertividade e genialidade do craque argentino, algo que não existe no plantel encarnado.

Poderia ser interessante rodar jogadores como Tiago Gouveia e Prestianni, e contratar um agitador, ainda que esta necessidade não seja urgente, por isso é que gostaria de terminar e falar dos pontas de lança, que é para mim a última posição que pode merecer um reajuste.

Presentemente, o Benfica tem no seu plantel Pavlidis, Arthur Cabral e Amdouni, sendo que para mim Amdouni é mais um “faz tudo” e não um ponta de lança. O suíço é um jogador que é muito forte a jogar entre linhas e não é tão cirúrgico como um goleador deve ser.

Porém, o Benfica não tem atualmente um predador como já teve no passado, tem sim um jogador que trabalha muito para a equipa, que é Pavlidis, e tem em Arthur Cabral um suplente interessante, mas que não vai passar muito disso. No entanto, o seu valor de mercado e aquilo que o Benfica investiu em si são altíssimos e condicionam uma possível saída. Acredito que se o Benfica conseguir colocar Arthur Cabral, e mantendo Amdouni como acredito que vai acontecer, tem de haver a capacidade de entrar em força no mercado e trazer um goleador de créditos firmados.

Neste sentido, acredito que a equipa liderada por Rui Costa poderia apostar na contratação de um nome sonante como Vladyslav Vanat, que soma até ao momento 13 golos e quatro assistências pelo Dínamo de Kiev. Outra opção seria Karim Konaté, que nesta época já apontou oito golos e duas assistências no RB Salzburgo. Por fim, Danylo Sikan, que leva quatro e uma assistência pelo Shakhtar, também podia ser equacionado.

Porém, e se o Benfica quiser mesmo pensar no futuro e garantir já um jogador com enorme margem de progressão e uma capacidade de fazer golos fora do normal, devia tentar a contratação de Agustín Ruberto. A meu ver, seria uma autêntica coqueluche nas mãos de Lage, e que vai ser um dos grandes goleadores do futuro.

Na época passada apontou 15 golos e uma assistência em 33 partidas realizadas, e possui um valor de mercado de “apenas” três milhões de euros, o que pode ser também um fator positivo para os encarnados face às boas relações que mantêm com o River Plate.

Concluindo o meu raciocínio, reconheço de facto muita qualidade no plantel do Benfica, qualidade essa aliada à quantidade de opções existentes. No entanto, identifico uma lacuna na lateral direita que deve ser urgente colmatada, e alguns ajustes que podem ser feitos tendo em vista a segunda metade da época, e até a próxima época.

Sobre este tema, e falando em casos específicos como os de Otamendi e Di Maria, dois jogadores absolutamente fulcrais na equipa encarnada, e que as suas saídas do clube da Luz vão motivar uma ida ao mercado que tem que ser estratégica, diria até inevitavelmente cirúrgica.