As finais não são para jogar, são para ganhar. Pode parecer um pensamento primário, mas não o é, porque nele se encerram múltiplos fatores que diferenciam os vencedores dos perdedores. Outra frase-feita, que pode parecer de La Palisse, é que os jogos só acabam quando o árbitro apita, e esta é uma verdade que o Benfica não percebeu na corrente temporada, seja contra o Aves SAD, fora, ou contra o Barcelona ou o Arouca, em casa. Essa carência de concentração competitiva até ao fim, verificada no Jamor ante o seu rival histórico, pode muito bem ter custado à equipa de Bruno Lage a ‘dobradinha’ que o Sporting agora celebra.

O Benfica, nos 90 minutos regulamentares, foi superior ao Sporting, teve ocasiões para aumentar a vantagem conseguida por Kokçu, mas ‘fechou a loja’ cedo demais, enquanto que os verdes e brancos acreditaram até ao fim e agradeceram a gentileza encarnada no lance que culminou na grande penalidade infantil cometida por Renato Sanches sobre Gyokeres, depois de Trincão ter passado como cão por vinha vindimada por vários adversários, antes de assistir o sueco. Bastou uma jogada em que os jogadores do Benfica decidiram apenas ‘marcar com os olhos’, para transferir a festa de norte para sul, nas bancadas do Estádio Nacional.

Pelo que fez, o Benfica merecia mais? Muito provavelmente, sim. Mas perante um adversário que não oferece nada a ninguém, bastou uma desatenção para se verificar ‘a morte do artista’. Foi dos melhores jogos do Sporting na presente época? Não. Mas o caráter da equipa valeu-lhe um empate quase fora de horas, para, a seguir, no prolongamento, revelar mais solidez e capacidade física e ser superior ao opositor. 

SURPRESA TÁTICA 

Rui Borges aplicou ao Sporting, no Jamor, a organização mais mecanizada, em 3x4x3, com um reforço defensivo no meio-campo, ao preferir Debast e Morita. Já Bruno Lage, para contrariar a largura que marca o futebol dos leões, optou por um sistema híbrido, que foi quase sempre 3x4x2x1, mas que também teve momentos de 4x3x3 e de 5x4x1. E a ideia do treinador do Benfica, colocando Carreras como central pela esquerda, enquanto Dahl fazia o flanco, resultou bem e permitiu que Akturkoglu (assim como Bruma, do outro lado), insistisse no jogo interior, causando danos severos à organização leonina, que pareceu surpreendida pela mobilidade dos encarnados.

Foi esta a razão por que o Benfica esteve perto de marcar aos 10 minutos (grande corte de Inácio), viu uma grande penalidade revertida por fora de jogo aos 11, e quase gritava golo aos 20 minutos, num tiraço de Pavlidis que Rui Silva desviou para o poste. Sem que o Sporting se encontrasse, os encarnados continuaram dominadores e perigosos, muito graças também a uma pressão alta que obrigava os leões, sem capacidade de construção, a um futebol desgarrado. Aos 28 e 42 minutos o perigo voltou a rondar a baliza de Rui Silva e foi com alívio que os bicampeões nacionais receberam o intervalo. 

GOLOS

A segunda parte começou como tinha terminado a primeira, a dar muito mais Benfica, e foi sem surpresa que os encarnados chegaram à vantagem aos 47 minutos por Kokçu, num ótima meia-distância. E três minutos depois Bruma meteu a bola na baliza de Rui Silva, mas o VAR reverteria esse 2-0, ao descortinar uma falta de Carreras no início do lance.

O que parecia ser um ‘game over’ para o Sporting acabou por redundar numa ‘nova vida’ para o leão, que ganhou outra alma e ensaiou uma reação forte, potenciada pelo banco, onde a troca de Debast por Morita foi um ato muito bem conseguido: o Sporting soltou-se mais, obrigou o Benfica a baixar linhas e a assumir um 5x4x1 que ainda não se lhe tinha visto.

Sentindo o perigo, Bruno Lage, aos 69 minutos mandou a jogo Renato Sanches (Kokçu) e Schjelderup (Akturkoglu), mas seis minutos volvidos Rui Borges fez um ‘all in’ com Harder (Pedro Gonçalves) e Quenda (Catamo). Os leões ficaram mais intensos e com mais presença na área contrária, e uma nova resposta do técnico encarnado não se fez esperar: Belotti foi aumentar a capacidade de pressão do Benfica, e Aursnes substituiu o desgastado Tomás Araújo.

Com a partida novamente controlada, o Benfica dispôs de duas ocasiões (Belotti, 81 e Barreiro, 90+8), o Sporting pode queixar-se de um falhanço de Trincão (87), mas o destino da Taça parecia traçado quando, aos 90+9 o Benfica teve um apagão que permitiu abrirem-se avenidas a Trincão e Gyokeres no lance do penálti que levou tudo para prolongamento. 

MAIS LEÃO

Ceder o empate no lavar dos cestos foi um rude golpe, de que o Benfica nunca mais se recompôs. O Sporting encarou o prolongamento de menos a mais, enquanto que os encarnados iam definhando na partida. E nem a entrada de Di María, já depois de Harder ter feito o 1-2, mudou o rumo da história, e foi frente a uma equipa da Luz de braços caídos que Francisco Trincão deu o ‘coup de grace’, colocando o nome numa final em que já tinha feito as assistências para o penálti sobre Gyokeres, e para o golo de Harder.

O Benfica pode queixar-se da má sorte, mas deverá queixar-se sobretudo de si próprio, e meditar no que lhe custou, em 2024/25, desligar as máquinas cedo demais. Já o Sporting, iluminado pela estrela de bicampeão, salvou-se em cima da meta e no tempo extra mostrou-se mais convicto, coeso e... ganhador.