A auditoria forense do FC Porto tem vários pontos de interesse e deu a conhecer algumas práticas comuns da anterior gestão da SAD azul e branca. O excesso de comissões, as despesas injustificadas, as contratações feitas sem scouting, etc. Porém, há um aspeto que saltou à vista do zerozero que, não sendo uma total novidade, evidencia que as relações mais próximas dos administradores tinham acesso a bons e vários negócios. Quando se fala em «relações próximas», não se está a apenas a ter em conta as amizades, mas também as relações familiares.
Há três nomes que têm de ser referidos neste aspeto. Dois são conhecidos e dispensam apresentações, Pedro Pinho e Alexandre Pinto da Costa. O terceiro nome é o de José Caldeira, irmão de Adelino Caldeira, um dos homens fortes da administração de Pinto da Costa.
Depois, em 2017, José Caldeira recebeu mais 716 mil euros, como recompensa pelo seu envolvimento na venda de Rúben Neves ao Wolverhampton (cerca de 16 milhões). Aqui, o estranho é que o auditor coloca a Gestifute como intermediária principal da venda e, por isso, recebe o grosso da comissão, cerca de 1,6 milhões de euros. Fica por perceber o papel do irmão de Adelino Caldeiro na venda do internacional português.
Alexandre Pinto da Costa e Pedro Pinho
A ligação de Alexandre aos negócios do FC Porto não é nova. Em 2016, com a ajuda do Football Leaks, ficaram a conhecer-se vários negócios entre o filho do presidente dos dragões e o clube. Essas ligações, encabeçadas por intermediações de Ricardo Quaresma, Rolando ou Carlos Eduardo, eram feitas através da empresa Energy Soccer que tinha como dono Alexandre Pinto da Costa e...Pedro Pinho. Dois amigos que estudaram juntos. Aliás, é através da Energy Soccer e da relação com Alexandre, que Pedro Pinho se começa a ligar com o FC Porto.
Focando, para já, em Alexandre, há cinco menções do filho de Pinto da Costa em negócios com o FC Porto, através das empresas Energy Soccer e Vela Management (este nome é importante). Quatro são fáceis de perceber, uma requer uma mente mais aberta.
Os fáceis são:
Suk Hyun-jun - Através da Energy Soccer, intermediação da venda ao Troyes no valor de 200 mil euros, que representa dez por cento da venda (dois milhões). Esta percentagem é a máxima que a FIFA recomenda.
Yacine Brahimi - Intermediação da renovação, em 2015, no valor de 500 mil euros, que representa oito por cento do ordenado bruto total previsto no contrato (FIFA recomenda máximo de três por cento).
Sérgio Oliveira - Através da Vela Management, intermediação do primeiro contrato assinado com o FC Porto, em 2015, no valor 300 mil euros. Este contrato, assinado no mesmo dia que o contrato com os dragões, rendeu a empresa 22 por cento ordenado bruto total previsto no contrato.
Vincent Aboubakar - Através da Energy Soccer intermediação do empréstimo do avançado ao Besiktas, no valor de 244 mil euros. Este valor representa cerca de dez por cento do valor da cedência (2,5 milhões).
Agora, o negócio mais confuso e a explicação da ligação de Alexandre Pinto da Costa, Pedro Pinho e a Vela Management:
Segundo o auditor, esta comissão, no valor de cerca de 1,3 milhões, foi paga à Vela Management, uma empresa que, segundo o mesmo auditor, pertencia a Alexandre Pinto da Costa e ao seu sócio...Pedro Pinho. Os dois terminaram as suas relações empresariais há alguns anos, mas mantêm amizade e estão a ser investigados juntos na operação prolongamento, do Ministério Público, que suspeita de desvios de 40 milhões dos contratos de transmissões televisivas entre o FC Porto e a Altice.
Pedro Pinho e as exclusividades
Apesar da ligação com Alexandre, Pedro Pinho merece um espaço isolado neste artigo. Segundo o auditor, através das empresas PP Sports e N1, entre 2014 e 2024, o empresário cobrou cerca de 14,6 milhões ao FC Porto.
Ainda assim, segundo a análise do zerozero, duas coisas saltam à vista. A primeira é que os dragões devem muito dinheiro a Pedro Pinho. A segunda é a expectativa de esse valor poder ser muito maior, devido a várias cláusulas de exclusividade. Estas prevêem que determinados jogadores só possam negociados por Pedro Pinho
Há ainda dúvidas sobre a venda de Evanilson Pedro Pinho tinha exclusividade na intermediação, mas o auditor não faz referência ao empresário na venda ao Bournemouth.
Aqui ficam algumas das principais interseções entre Pedro Pinho e a SAD azul e branca:
Diogo Costa - Duas intermediações em renovações (2021 e 2022), no valor de 950 mil euros cada uma, numa percentagem bem superior aos três por cento.
Nico González - Intermediação nas negociações entre o espanhol e o clube, no valor de 1,1 milhões de euros (oito por cento do ordenado total)
Otávio Ataíde - Intermediação nas negociações entre o central e o clube, no valor de um milhão de euros (29 por cento do ordenado total)
Diogo Leite - Intermediação na venda ao Uion Berlin, no valor de 700 mil euros. Este negócio está em tribunal, já que a empresa Onsoccer, de António Araújo, tinha a exclusividade na intermediação.
Há ainda várias outras ligações, mais ou menos fáceis de perceber. Tudo isto, aliado ao que já conhece, faz a SAD do FC Porto ser prejudicada em mais de 50 milhões de euros.