
O ano era 1997 e Venus Williams já sabia o que era ser profissional ia para três anos. Com 17 anos, chegou à final do US Open, perdida para outra menina prodígio, Martina Hingis, uns meses mais nova que Williams - é, ainda hoje, a final de Grand Slam mais juvenil da história.
O ténis feminino era então outra coisa, feito mais de toque, menos de poder físico. Essa final de 1997 seria praticamente uma passagem de testemunho entre estilos. Venus e, mais tarde, a irmã Serena, inauguravam, à sua maneira, uma nova era, com mais peso de bola, com mais preponderância do jogo desde a linha de fundo. A carreira de Hingis, tecnicista por excelência, não seria longa, entre um par de abandonos e regressos. Já a de Venus ainda dura. Aos 45 anos, a norte-americana prepara-se para voltar a competir, no WTA de Washington, após 16 meses de ausência do circuito. Nunca houve um adeus oficial porque Venus nunca foi uma atleta retirada, apesar de até há pouco tempo surgir como “inativa” no site da WTA, onde também não tem ranking.
Os últimos anos foram complicados para a mais velha das irmãs Williams. Entre ambas reuniram 30 títulos em majors, só em singulares - Serena venceu 23, Venus sete, e sete foram as finais que perdeu para Serena em torneios do Grand Slam, a última das quais em 2017. Seria essa a última grande temporada de Venus, que ainda assim, entre lesões e uma menor capacidade de estar nas decisões, foi-se mantendo no circuito.
O regresso dá-se com um wild card que resolveu por fim aceitar - outros já tinham aparecido, mas a tenista só agora sentiu o ímpeto de voltar. Venus tem 49 títulos WTA em nome próprio, mas desde 2019 que jogou apenas 37 encontros. Destes, venceu apenas sete. O último ano, onde jogou apenas em Miami e Indian Wells, foi particularmente duro, depois de ser operada ao útero para remover miomas, tumores benignos mas que lhe causavam dores intensas, sangramentos intensos e náuseas. E que tiveram impacto na carreira. Já em Washington assumiu que os problemas de saúde foram “assustadores” e que a preocupação não estava nos courts, mas sim em voltar a sentir-se saudável.
“Há um ano estava a preparar-me para ser operada. Não havia qualquer hipótese de jogar ténis”, sublinhou, a horas de enfrentar a compatriota Peyton Stearns, que nem era nascida quando Venus venceu os seus quatro primeiros majors, entre 2000 e 2001.
Venus assume que voltar em Washington fez-lhe sentido. “Tenho estado a treinar, a bater bolas. E, claro, eu amo o ténis e amo jogar em piso rápido”, explicou, deixando no ar a ideia de que este não é um retorno pontual. Ainda assim, Venus, a mais discreta das Williams, não abriu demasiado o livro sobre o que virá a seguir. “Eu acho que sei o que quero fazer, mas não quero falar sobre isso. Estou aqui para o agora e, quem sabe? Talvez haja mais do que isto”, revelou. Ser a mais velha da Era Open a vencer um encontro oficial ainda demorará o seu tempo: Martina Navratilova fê-lo com 47 anos, na edição de 2004 de Wimbledon.
A ideia, em Washington, é divertir-se, sublinha, “aproveitar o momento” sem “colocar demasiado pressão” nela própria. Neste momento, diz, sucesso não significa ganhar encontros - algo que não saboreia desde agosto de 2023 - mas continuar no seu processo e acreditar. E Venus acredita que vai jogar bem. “Continuo a ser a mesma jogadora. Sou uma jogadora de pancadas fortes. Continuo a ter força nas pancadas. É a minha marca”, garante.
A estreia na capital norte-americana está marcada para quarta-feira.