
Numa terra em que o nevoeiro costuma ser protagonista, foi o vento quem ameaçou ser notícia, desta vez, num jogo do Nacional da Madeira. Mas à segunda tentativa e muitas horas depois do previsto, a equipa do Estrela da Amadora lá conseguiu aterrar já na madrugada do dia do jogo, impedindo que a partida da 28.ª jornada fosse adiada para outro dia.
Mas se calhar não se teria perdido muito. Pelo menos a avaliar pela inspiração (ou falta dela) dos jogadores das duas equipas. Em 90 minutos que se arrastaram penosamente, houve muito pouco a valer a pena.
Valeu, por exemplo, pela classe de Rodrigo Pinho. O avançado brasileiro joga, neste Estrela da Amadora, muito mais longe da baliza do que noutros tempos. Joga também a um ritmo mais lento, mas aquele pé esquerdo conhece todos os caminhos do futebol.
Como mostrou aos 13 minutos no passe a rasgar a defesa do Nacional que isolou Kikas. O português rematou forte, a bola estoirou na trave e bateu em Chico Banza, que ainda fez a dança do golo, mas viu o VAR alertar o árbitro da partida que estava em fora de jogo.
E assim, o lance que podia abrir um jogo importante nas contas da permanência para as duas equipas, foi anulado.
O susto do golo retraiu o Nacional, que apesar de tudo estava bastante mais seguro na classificação, e que praticamente não existiu em termos ofensivos – aqueles remates à figura de João Costa não entram nestas contas – e os primeiros 45 minutos não deixaram saudades.
E talvez seja injusto para a 1.ª parte dizer que a 2.ª foi melhor. Não foi. Houve muito mais passes falhados. Muito mais nervosismo de parte a parte. E claro: menos futebol.
Mas teve um golo! Esse bem raro que é tão caro ao futebol. Aos 74 minutos Jovane Cabral saltou do banco e tal como já tinha feito num outro jogo diante de um adversário direto – o Gil Vicente, no caso – voltou a ser decisivo para a conquista de pontos para a luta do Estrela.
José Gomes, um nome que é tão querido para os amadorenses, voltou a ser talismã. Mas desta vez, foi o lateral do Nacional homónimo do eterno presidente do Estrela, quem foi amigo.
Mérito para a pressão de Travassos, que roubou a bola em zona subida ao adversário e sem querer serviu Kikas que, no momento certo, deu para o lado a isolar Jovane. O internacional cabo-verdiano encheu-se de fé e rematou ao ângulo superior da baliza do Nacional para selar a vitória aos 81’ e dar três pontos que podem ser fundamentais nas contas da permanência.
E tal como horas antes, foi à segunda tentativa que Estrela alcançou o objetivo. A aterragem de madrugada. O golo já quase fora de horas. Pode não ser suficiente para lhe chamarmos já ventos de mudança, mas já deu para colocar fim a um ciclo de cinco jogos sem vencer.
As reações dos treinadores
Tiago Margarido: «Tivemos alguma desinspiração, principalmente nas definições no último terço. Sabíamos que ia ser um jogo dividido, pois o Estrela da Amadora é uma equipa com qualidade. Tentámos assumir as rédeas do jogo, ao passo que o Estrela da Amadora ficou lá atrás para poder sair em transição. No momento da transição, de facto, eles são muito fortes, porque têm jogadores que definem muito bem na frente. A nossa equipa também ficou um pouco ansiosa, se calhar a perceber a importância do jogo, e na possibilidade de se distanciar de um adversário direto. Depois, na 2.ª parte, sabíamos que ia ser um jogo mais anárquico, e nisso o Estrela da Amadora tem mais vantagem, porque tem jogadores muito fortes fisicamente.»
José Faria: «Foi um jogo de superação, mas esta equipa tem demonstrado esse caráter. Mesmo quando não ganhamos, acho que ninguém pode dizer que é fácil jogar contra o Estrela [da Amadora]. Aqui e ali, tivemos algum resultado menos positivo. Se tivéssemos tido um ou outro resultado positivo, podíamos estar a fazer um campeonato totalmente diferente. É uma vitória num campo muito difícil, contra um adversário difícil, onde a maior parte das equipas passa muito mal para ter um bom resultado. É muito satisfatório, sobretudo por todas as incidências que antecederam o jogo [atraso no voo para a Madeira].»
(em atualização)