
Um lobo-ibérico macho, de 10 anos, nascido no Jardim Zoológico de Lisboa, e uma fêmea, de dois anos, proveniente de um santuário de animais em Cuenca, Espanha, foram viver juntos no Parc Merveilleux no Luxemburgo. O objetivo da instituição é contribuir para a conservação desta espécie ameaçada, promovendo a sua reprodução no âmbito de um programa europeu.
Os dois lobos foram integrados numa área de 5 mil metros quadrados, onde podem circular livremente e, segundo o veterinário do parque, Guy Willems, os animais “adaptaram-se muito bem” ao novo habitat.
A chegada dos lobos faz parte de uma parceria com o Programa Europeu de Salvamento de Espécies, que visa garantir a sobrevivência do lobo-ibérico.
“Queremos que os dois animais procriem, é um dos motivos de terem vindo para o parque”, explicou o tratador responsável ao jornal português no Luxemburgo "O Contacto" .
Os lobos-ibéricos tornaram-se uma das principais atrações do Parc Merveilleux de Bettembourg, que reabriu ao público a 29 de março, iniciando a sua 69.ª temporada.
Uma espécie ameaçada que recuperou até 2024
O lobo-ibérico é uma subespécie do lobo-cinzento, originária da Península Ibérica. No passado, a sua população foi drasticamente reduzida devido a campanhas de caça e envenenamento, especialmente durante as décadas de 1970. Estima-se que, nessa altura, restassem apenas cerca de 50 casais.
Os esforços de conservação deram frutos.
Segundo dados da UE, em 2023 existiam cerca de 20.300 lobos na Europa, com as maiores concentrações nos Balcãs, nos países nórdicos, em Itália e em Espanha. O crescimento da população tem gerado dificuldades de convivência com atividades humanas, especialmente devido aos ataques ao gado.
Situação do lobo-ibérico em Portugal
Em Portugal, a recuperação do lobo-ibérico a sul do Douro também teve bons resultados.
O projeto LIFE WolFlux, que decorreu ao longo de seis anos e terminou em dezembro de 2024, implementou diversas medidas para promover a coexistência entre lobos e humanos.
Desenvolvido pela Rewilding Portugal com parceiros locais e apoio da Comissão Europeia, o projeto LIFE WolFlux implementou medidas como a introdução de presas selvagens, cães de guarda e vedações e promoveu a coexistência entre lobos e humanos. Apesar de terminado o projeto, há ainda desafios a ultrapassar, como a necessidade de melhorar a ligação entre alcateias dispersas, prevenir danos e simplificar indemnizações para produtores lesados, conclui no seu relatório final.
Em Portugal, estima-se que existam entre 250 a 300 lobos-ibéricos (dados até novembro de 2024), com a maioria concentrada a norte do rio Douro, onde a subpopulação se mantém relativamente estável.
Apenas cerca de 14% destes animais vivem a sul do Douro, numa situação mais vulnerável. Aqui, os lobos estão distribuídos por algumas alcateias dispersas e isoladas, algumas localizadas no Grande Vale do Côa e outras mais a oeste.
Proteção do lobo enfraquecida na Europa em 2025
A nível europeu, o estatuto de proteção do lobo sofreu um revés no final de 2024, quando os países decidiram reduzir o nível de proteção da espécie.
Sob pressão dos criadores de gado, a Convenção de Berna – que regula a proteção da vida selvagem na Europa – aprovou a passagem do lobo de “espécie estritamente protegida” para “protegida”.
A proposta de revisão foi apresentada pela União Europeia, que justificou a mudança com o aumento da população de lobos e os crescentes conflitos com os criadores de gado.
Na sua proposta, a UE, que afirma basear-se numa “análise aprofundada do estado” do carnívoro no seu território, dá conta de uma população crescente, atingindo 20.300 indivíduos em 2023, maioritariamente nos Balcãs, nos países nórdicos, em Itália e em Espanha.
Uma expansão que estaria na origem de dificuldades de “coexistência com as atividades humanas, nomeadamente devido aos danos causados à pecuária, que atingiram níveis significativos”, segundo Bruxelas.