Milhares de afegãos residentes no Irão atravessaram a fronteira nos últimos dias, antes da data limite fixada para este domingo por Teerão para a saída dos considerados "ilegais", segundo a ONU, que tomou medidas de "emergência" nos postos fronteiriços.

Para o representante da UNICEF no Afeganistão, Tajudeen Oyewale, trata-se de uma situação de "emergência" num país que já enfrenta uma "crise crónica", com 1,4 milhões de afegãos a regressarem do Irão e do Paquistão este ano.

"O que é preocupante é que 25% destes retornados são crianças (...) porque a demografia mudou, de homens solteiros para famílias inteiras que atravessam a fronteira com muito poucos bens e dinheiro", revelou na quinta-feira à agência France-Presse (AFP).

O número de pessoas que atravessam a fronteira aumentou acentuadamente desde meados de junho, com um pico de mais de 43.000 em Islam Qala, na província de Herat (oeste do Afeganistão), em 01 de julho, informou na sexta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Islam Qala tem capacidade para acolher um grande número de pessoas, mas está mal equipada, afirmou Tajudeen Oyewale.

"Quando se começa a receber mais de 20.000 pessoas (por dia), ultrapassa-se completamente o nosso cenário de planeamento", explicou.

A ONU tomou medidas de emergência para reforçar os sistemas de água e de saneamento construídos para 7.000 a 10.000 pessoas por dia, bem como a vacinação, a nutrição e os espaços para crianças.

Muitas pessoas que atravessaram a fronteira relataram pressões por parte das autoridades iranianas e mesmo detenções e deportações.

"Algumas pessoas têm tanto medo que não saem de casa. Mandam os filhos pequenos para fora de casa só por um pedaço de pão e, por vezes, até essas crianças são presas", disse Aref Atayi, de 38 anos, sobre as pressões que os afegãos enfrentam no Irão.

"Mesmo que tenha de mendigar no meu próprio país, é melhor do que ficar num lugar onde somos tratados assim", disse no sábado Aref Atayi, enquanto esperava no centro de acolhimento gerido pela ONU por apoio para ajudar a sua família a reinstalar-se.