O Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S) da União Europeia confirmou que 2024 foi o ano mais quente alguma vez registado a nível mundial e o primeiro ano em que a temperatura média global excedeu 1,5°C acima do nível pré-industrial.

"Todos os conjuntos de dados de temperatura global produzidos internacionalmente mostram que 2024 foi o ano mais quente desde que os registos começaram em 1850 . A humanidade está no comando do seu próprio destino e a forma como respondemos ao desafio climático deve basear-se em evidências. O futuro está nas nossas mãos - uma ação rápida e decisiva pode ainda alterar a trajetória do nosso clima futuro", alerta Carlo Buontempo, director do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S) .

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A temperatura global do ar à superfície aumenta acima do período de referência pré-industrial de 1850-1900, com base em vários conjuntos de dados de temperatura global apresentados como médias anuais desde 1967 (esquerda) e como médias de 5 anos desde 1850 (direita).


O aquecimento global provocado pelo Homem continua a ser a principal causa das temperaturas extremas do ar e da superfície do mar; outros fatores, como o El Niño Oscilação Sul (ENOS), também contribuíram para as temperaturas invulgares observadas durante o ano.

A temperatura média mundial ultrapassou os 1,5°C de aquecimento, limite estipulado no Acordo de Paris de 2015. Este acordo visa manter o aquecimento global “bem abaixo dos 2°C”, com esforços adicionais para o limitar a 1,5°C. Para se considerar este limite ultrapassado, a média deverá manter-se acima de 1,5°C durante 20 a 30 anos.

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Destaques da temperatura global do ar à superfície:

  • 2024 foi o ano mais quente nos registos de temperatura global desde 1850: a temperatura média global foi de 15,10°C - 0,72°C acima da média de 1991-2020 e 0,2°C acima de 2023, o ano mais quente anterior. Isto equivale a 1,60°C acima de uma estimativa da temperatura de 1850-1900 designada como era pré-industrial.
  • 2024 é o primeiro ano civil que atingiu mais de 1,5°C acima do nível pré-industrial.
  • Cada um dos últimos 10 anos (2015–2024) foi um mais quentes já registados.
  • A temperatura média global mensal excedeu 1,5°C acima dos níveis pré-industriais durante 11 meses do ano. Todos os meses desde julho de 2023, exceto julho de 2024, ultrapassaram o nível de 1,5°C.
  • Um novo recorde de temperatura média global diária foi atingido a 22 de julho de 2024, com 17,16°C.
  • 2024 foi o ano mais quente para todas as regiões continentais, exceto a Antártida e a Australásia, bem como para partes consideráveis ​​do oceano, particularmente o Oceano Atlântico Norte, o Oceano Índico e o Oceano Pacífico ocidental.
  • 2024 registou três estações quentes recorde para a época correspondente do ano: inverno boreal (dezembro de 2023 a fevereiro de 2024), primavera boreal (março a maio) e verão boreal (junho a agosto) com 0,78°C, 0,68 °C e 0,69 °C, respetivamente, acima da média de 1991-2020.
  • Cada mês de janeiro a junho de 2024 foi mais quente do que o mês correspondente de qualquer ano anterior já registado. Cada mês de julho a dezembro, exceto agosto, foi o segundo mais quente, depois de 2023, para aquela altura do ano. Agosto de 2024 ficou empatado com agosto de 2023 como o mais quente de que há registo.

Destaques da temperatura da superfície do oceano:

  • Em 2024, a temperatura média anual da superfície do mar (TSM) sobre o oceano extrapolar atingiu um máximo recorde de 20,87°C, 0,51°C acima da média de 1991–2020.
  • A TSM extrapolar média atingiu níveis recorde para esta época do ano, de janeiro a junho de 2024, continuando a série de meses recorde observada no segundo semestre de 2023. De julho a dezembro de 2024, a TSM foi a segunda mais quente alguma vez registada para a época do ano, após 2023.
  • O ano de 2024 viu o fim do evento El Niño iniciado em 2023 e a transição para condições mais neutras ou La Niña.

Destaques da temperatura na Europa:

  • 2024 foi o ano mais quente alguma vez registado para a Europa, com uma temperatura média de 10,69°C, 1,47°C acima da média do período de referência 1991-2020 e 0,28°C mais quente do que o anterior recorde estabelecido em 2020.
  • A primavera e o verão foram os mais quentes já registados na Europa, com a temperatura média da primavera (março-maio) 1,50°C superior à média sazonal de 1991-2020 e a temperatura média do verão (junho-agosto) 1,54°C acima da média sazonal 1991-2020.

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Anomalias da temperatura do ar à superfície para 2024 em relação à média do período de referência 1991–2020.


Chuvas torrenciais, ondas de calor, secas extremas

Os efeitos do aquecimento global tornaram-se cada vez mais evidentes, com eventos climáticos extremos a intensificarem-se. Em 2024, foram observados eventos climáticos extremos em todo o mundo, desde tempestades e inundações severas a ondas de calor, secas e incêndios florestais.

Chuvas torrenciais causaram inundações graves no sul de Espanha, resultando em mais de 200 mortes, sobretudo na região de Valência. Em outubro, o Copernicus registou precipitação acima da média na Península Ibérica, assim como em França, no norte de Itália e na Noruega.

"O mundo não está no bom caminho"

A ONU alerta que o mundo não está no bom caminho para cumprir o objetivo de limitar o aquecimento global.

As políticas atuais projetam um aquecimento “catastrófico” de 3,1°C até ao final do século, segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP). Mesmo com todas as promessas de mitigação, a temperatura global aumentaria, na melhor das hipóteses, 2,6°C.

As consequências do aumento da temperatura no mundo

São já poucos os cantos do mundo que podem dizer que não sentem as consequências das alterações climáticas. Dos violentos fogos na Califórnia e na Austrália, ao degelo no Ártico e na Antártida, às inundações sem precedentes na Europa e na China, a verdade é inegável. O que acontece no planeta se as temperaturas aumentarem mais do que 1,5ºC, 2ºC ou 4ºC?

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