Por que razão o cancro do ovário continua a ser subdiagnosticado?

O cancro de ovário normalmente é diagnosticado em estadios mais avançados, uma vez que quando surge sintomatologia é porque já existe extensão da doença a outros orgãos, não havendo rastreio (indivíduos assintomáticos) instituído.

A que sintomas se deve estar atento?

Aumento do volume abdominal, desconforto/dor abdmonial/pélvica, perda involuntária de peso, diminuição do apetite, falta de ar.

É um tipo de cancro que é diagnosticado, sobretudo, após a menopausa. Qual o papel da Medicina Geral e Familiar , já que acompanha a mulher ao longo da vida?

O médico de família deve estar atento à história familiar de cancro do ovário/mama, uma vez que a presença de história familiar destas patologias pode levar a referenciação às consultas de risco familiar e avaliação do risco das famílias e eventual instituição de programas de rastreio/cirurgia preventivas.

Em caso de sintomatologia suspeita devem ser requisitados os exames complementares de diagnóstico dirigidos, para o diagnóstico mais atempado possível. A avaliação ginecológica regular, incluindo, realização de ecografia ginecológica (endovaginal) pode ajudar no diagnóstico precoce desta doença, embora não haja nenhum rastreio instituído no país.

“Um centro de referência deve cumprir um número de regras em termos de recursos logísticos e humanos (equipa multidisciplinar)”

Defende a existência de centros de referência. Porquê?

As doentes com diagnóstico de cancro do ovário devem ser referenciadas para centros de referência, uma vez que, necessitam de uma abordagem em equipa multidisciplinar especializada neste tipo de patologia. Esta abordagem permite um diagnóstico e tratamento cirúrgico e sistémico individualizado e mais eficaz.

Que meios são necessários para que se possa avançar com esses centros?

Um centro de referência deve cumprir um número de regras em termos de recursos logísticos e humanos (equipa multidisciplinar), para além de um número mínimo de casos tratados, para que possa ser considerado especializado no tratamento desta patologia. Só com uma equipa multidisciplinar especializada poderemos obter os melhores resultados para os doentes.

“Para além das terapêuticas alvo, estão em curso vários ensaios com a inclusão de imunoterapia, contudo, ainda a aguardar incorporação na prática clínica”

Trata-se de um cancro com elevadas recidivas?

O cancro do ovário, como consequência de ser diagnosticado em estadios mais avançados, apresenta elevada probabilidade em recidivar, comparativamente a outras patologias oncológicas.

Em termos de terapêutica, tem havido avanços importantes ou é uma patologia que ainda exige maior aposta na investigação?

O cancro do ovário tem apresentado alguns avanços na abordagem terapêutica, tanto a nível cirúrgico, como sistémico, nomeadamente com a incorporação de tratamentos que incluem, para além da quimioterapia, terapêuticas dirigidas, como os inibidores da PARP, nos casos que apresentam indicação para a sua realização. Para além das terapêuticas alvo, estão em curso vários ensaios com a inclusão de imunoterapia, contudo, ainda a aguardar incorporação na prática clínica.

No futuro, com o envelhecimento da população, logo com um número maior de mulheres pós-menopausa, pode esperar-se um aumento da incidência e prevalência deste cancro?

A incidência e a prevalência têm vindo a aumentar, não só pelo envelhecimento da população, mas também pelo aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico e otimização da terapêutica com intuito curativo.

SO

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