Os rankings das instituições de ensino geram debates recorrentes. Contudo, a discussão tende a centrar-se na oposição entre ensino público e privado, esquecendo o seu verdadeiro propósito: fornecer informação objetiva e comparativa. Esta visão limitada ignora que o ensino superior integra um sistema global, onde estudantes e famílias — nacionais e estrangeiras — procuram referências fiáveis para orientar decisões académicas.
Em Portugal, o debate sobre rankings mantém-se excessivamente centrado numa perspetiva doméstica. Esquece-se que o ensino é parte de um ecossistema internacional, moldado pela mobilidade académica, a transformação digital, a economia global e a crescente concorrência entre instituições. Neste contexto, é fundamental dispor de mecanismos rigorosos que permitam comparar, de forma transparente, a qualidade e o desempenho das universidades, tanto a nível nacional como internacional.
É certo que os rankings têm limitações importantes. As metodologias mais comuns seguem o modelo de “Oxbridge”, com forte ênfase na investigação científica, frequentemente em detrimento da qualidade pedagógica, da inclusão e da ligação com a comunidade. Esta abordagem, demasiado focada na produção científica e na utilização de métricas padronizadas, pode oferecer uma visão redutora da missão educativa.
Algumas instituições, movidas pela lógica competitiva, chegam a adotar práticas discutíveis para melhorar artificialmente a sua posição nos rankings. Estas distorções não invalidam a sua utilidade, mas reforçam a necessidade de uma leitura crítica, contextualizada e multidimensional.
Para os gestores das instituições, os rankings devem ser vistos como instrumentos de diagnóstico e planeamento, não como fins em si mesmos. A existência de avaliações comparativas, auditáveis e internacionalmente reconhecidas permite decisões mais informadas e fundamentadas, essenciais para definir estratégias de desenvolvimento sustentável. Em vez de recearem a comparação, os dirigentes académicos devem encarar estes desafios como oportunidades para inovar, elevar padrões e fortalecer a reputação institucional.
Para os estudantes e as suas famílias, os rankings constituem um recurso útil na escolha de instituições, permitindo cruzar variáveis como qualidade académica, empregabilidade, inovação ou inclusão. Ao contrário de decisões baseadas apenas na proximidade geográfica ou no custo, este tipo de informação favorece escolhas mais alinhadas com objetivos académicos e profissionais.
Em suma, os rankings devem ser encarados como uma referência complementar, integrada numa avaliação mais ampla, que considere aspetos como a adequação das formações ao mercado de trabalho, a inovação pedagógica e o compromisso social das instituições. A sua leitura crítica e informada pode contribuir para uma melhoria contínua do ensino superior e para uma escolha mais consciente por parte dos seus principais destinatários: os estudantes.
Miguel Copetto, diretor-executivo da APESP – Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado