Perdi, há uns meses, um grande professor da minha vida: o meu pai. Foi um professor por vocação até aos seus últimos dias e também um professor na vida. Encarou sempre a profissão do professor como um tesouro, dava sempre uma explicação para algumas dúvidas que tínhamos na cabeça. Era um professor que teve experiência de ensino em países diferentes, nos países que estão em desenvolvimento, mas que têm uma coisa em comum: a dificuldade no ensino.

Este ano, para celebrar o Dia Mundial do Professor, a UNESCO escolheu como tema “Valorizar as vozes dos professores: Rumo a um novo contrato social para a educação”. Quando olhamos para o lema escolhido pela UNESCO, pensamos logo na importância de criar um ambiente de apoio e as perspetivas dos professores nas políticas educativas para conseguir o seu desenvolvimento profissional. Mas como? A UNESCO estima que, até 2030, a nível mundial, será necessário recrutar 69 milhões de professores para conseguir preencher as vagas no ensino primário até ao ensino secundário. Um grande número para alcançar…

Muitos países em desenvolvimento, e não só, enfrentam a grave crise de recrutamento devido às políticas de cada país. A profissão do Professor já vai ser considerada como uma profissão “em vias de extinção” porque, nos dias de hoje, a renumeração e as perspetivas de carreira dos professores são aspetos importantes e não tidos em conta e, assim, afetam a maneira como os professores ensinam nas salas de aula. Surgem então várias perguntas: os professores na Europa são bem pagos? A adequação da dimensão da escola às necessidades ou o número de alunos em cada turma afetam o seu salário e o seu modo de ensino? Existe uma ligação entre o abandono escolar e o desenvolvimento profissional de um professor?

Os professores desempenham um papel fundamental na definição do futuro. Antigamente, eram considerados como moldadores do futuro dos alunos e impulsionadores do progresso educativo em cada país. No entanto, para continuarmos a aproveitar o potencial de um professor, numa era em que a tecnologia (nunca) pode vir a substituir parcialmente a sua presença na escola, é importante que a voz de um Professor seja ouvida e valorizada nos processos que afetam o desenvolvimento desta profissão.

Em 2018, o Índice Global de Estatuto dos Professores da Fundação Varkey descobriu que algumas regiões na Ásia respeitam muito a profissão de Professor, como por exemplo na Malásia e na República Popular da China, comparando um Professor a um Médico. Em Singapura, apenas 20% dos alunos do ensino secundário que se candidatam a programas de formação de professores são aceites e todos os professores provêm dos alunos que tenham melhores notas. Os professores na República da Coreia gozam condições e salários generosos e são recrutados entre os 5% mais graduados.

Deve ser estabelecido um diálogo mais inclusivo, sensato e construtivo sobre o papel de um Professor na educação. Não me vou alongar muito neste assunto delicado, mas lidar com a escassez de professores, em Portugal e no mundo inteiro, requer uma abordagem holística. Alem do recrutamento, fatores como a motivação dos professores, o bem-estar, a formação, as condições de trabalho e o estatuto social necessitam de uma grande atenção a nível nacional e mundial. A criação de percursos profissionais atrativos, com acesso equitativo ao desenvolvimento profissional, autonomia e propósito, é crucial para sustentar a motivação dos professores. Reconhecer a natureza multifacetada desta questão e propor estratégias abrangentes é crucial para encontrar soluções duradouras.

Que as vozes dos Professores sejam ouvidas e que os alunos possam gravar toda a sua dedicação, devoção e determinação nos seus corações como forma de agradecimento e que um Professor seja considerado como um herói verdadeiramente conhecido e reconhecido na sociedade. Portanto, o título deste texto trata-se de uma mera interrogação retórica.