A integração de energias renováveis na rede elétrica representa um dos maiores desafios e, simultaneamente, uma das mais promissoras oportunidades na transição energética global. À medida que fontes como a energia solar e a energia eólica se tornam cada vez mais predominantes, surge a necessidade urgente de adaptar a infraestrutura elétrica existente, tradicionalmente projetada para geração de energia centralizadas e previsível, para um sistema mais descentralizado e variável.
O maior desafio técnico da integração das renováveis está na sua sazonalidade e variabilidade. A produção de energia solar depende da radiação solar, que varia ao longo do dia e das estações, enquanto a energia eólica depende do que reservam as condições meteorológicas para um determinado momento do dia e do mês. Estas características podem parecer imprevisíveis e, de alguma forma, flutuantes mas apenas significam que a rede elétrica e os consumidores necessitam de ser mais flexíveis para equilibrar a oferta e a procura em tempo real, sabendo que hoje em dia conseguimos prever com bastante exatidão vários fatores que nos influenciam o dia, como a previsão meteorológica ou a nossa hora de chegada a casa
Além da capacidade de precisão, outra solução para colmatar este desafio é o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia em grande escala, como baterias, que podem guardar o excesso de produção nos momentos de pico e libertá-la quando a produção diminui. Adicionalmente, o aperfeiçoamento das redes inteligentes (como smart grids) permite uma melhor gestão da distribuição de energia, ajustando automaticamente o fluxo energético para otimizar a eficiência e reduzir perdas.
A modernização da infraestrutura de transmissão e distribuição sobre vários obstáculos. A maioria das redes elétricas foi construída para transportar energia de grandes centrais para as cidades, através de linhas de alta tensão. Agora, com o aumento das comunidades energéticas, proliferação de painéis solares em edifícios e capacidade eólica, seja em zonas ruais ou mais próxima das cidades, é necessário que a rede seja capaz de receber e distribuir energia de múltiplos pontos de geração dispersos geograficamente. E controláveis geograficamente.
Apesar destes desafios, as oportunidades são muitas. O aumento da capacidade renovável pode levar à criação de empregos em zonas rurais, onde muitas vezes se instalam grandes parques eólicos e solares. Estas áreas, que anteriormente estavam dependentes de economias tradicionais, têm agora a possibilidade de se tornar pólos de inovação verde.
Para além disso, a integração das renováveis contribui significativamente para a descarbonização da economia. À medida que mais eletricidade é produzida a partir de fontes renováveis, menos dependência há dos combustíveis fósseis, o que reduz as emissões de gases com efeito de estufa. Esta redução é crucial no combate às alterações climáticas, e as metas de descarbonização, como as estabelecidas no Acordo de Paris, só serão alcançadas com uma profunda transformação do setor energético.
Adicionalmente, à medida que a transição avança, o custo das tecnologias renováveis tem vindo a diminuir rapidamente, tornando-as competitivas quando comparadas com as fontes de energia tradicionais. Esta queda nos custos, juntamente com os avanços na eficiência e na durabilidade dos sistemas renováveis, torna a energia verde cada vez mais acessível e economicamente viável. Em muitas partes do mundo, como em algumas regiões de Portugal, a energia solar já é a forma mais barata de geração de eletricidade.
Embora existam desafios técnicos, económicos e regulamentares significativos, as oportunidades são inúmeras. Com o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento, redes inteligentes e a modernização da infraestrutura, é possível garantir que a energia renovável não só substitui os combustíveis fósseis, como o faz de maneira mais eficiente e acessível.
Voltalia Group Chief Technology Officer e Country Manager para Portugal