A 7 de junho celebra-se o Dia Mundial da Segurança Alimentar, instituído em 2018 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O tema de 2025, Food safety: science in action, sublinha o papel essencial da ciência nas escolhas relacionadas com os alimentos. “A ciência está no coração da segurança alimentar. Ajuda-nos a compreender o que torna os alimentos inseguros e orienta-nos sobre como prevenir as toxinfeções alimentares, reduzir custos e salvar vidas.”
O recente apagão, que afetou milhares de pessoas em Portugal, revelou dúvidas e recomendações contraditórias sobre o que fazer com alimentos refrigerados e congelados durante cortes de energia. Se é verdade que em caso de dúvida sobre se os alimentos estão seguros o melhor é não consumir, também é importante distinguir entre precaução fundamentada e desperdício causado por desinformação. Deitar fora alimentos só porque estiveram algumas horas a uma temperatura acima dos recomendados 4 °C, sem avaliar riscos, é caro, ambientalmente insustentável, e, por vezes, desnecessário.
Durante o apagão, e nos dias seguintes, circularam nas redes sociais e em alguns meios de comunicação recomendações para descartar ovos e iogurtes que tivessem estado em frigoríficos desligados durante algumas horas, exemplos claros de como a desinformação se propaga rapidamente. Os ovos devem ser guardados no frigorífico em casa, sobretudo para manter a frescura, não tanto por segurança. Nos supermercados, estão à temperatura ambiente. E não porque os supermercados são “mais frescos”, como se dizia nas redes sociais. A verdade é que a legislação europeia não permite que os ovos sejam refrigerados antes da venda para evitar a formação de condensação na casca, resultantes de flutuações de temperaturas, o que pode facilitar a entrada de bactérias como Salmonella. Portanto: é importante compreender que, numa situação de crise, como a que foi experienciada, a exposição dos ovos a temperaturas acima das de refrigeração por algumas horas não compromete a sua segurança.
Quanto aos iogurtes, são “alimentos vivos” com bactérias do ácido lático em números elevados, que devem ser mantidos no frigorífico para preservar a viabilidade dessas bactérias. Um iogurte fechado, fora do frio por algumas horas e sem ser exposto a temperaturas elevadas, dificilmente representa um risco para a saúde. Deitá-lo fora é, na maioria dos casos, desperdício.
Num mundo de megafones digitais, é urgente distinguir ciência de mitos. Se queremos reduzir doenças, custos e salvar vidas, temos de confiar na ciência. A segurança alimentar é garantida com conhecimento acessível, claro e baseado em evidência, especialmente em tempos de incerteza.
O apagão mostrou que muitas preocupações com a segurança dos alimentos são guiadas por perceções erradas. Também no dia a dia, decisões sobre conservar ou descartar alimentos devem assentar em conhecimento científico, não em alarmismos. Promover uma relação consciente e informada com os alimentos é essencial para proteger saúde, ambiente e recursos.
Docente da Escola Superior de Biotecnologia e Investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Universidade Católica Portuguesa